Setembro amarelo: toda vida importa!

OPINIÃO - Gabriel Carapeba

Data 31/08/2022
Horário 05:12

Desde 2003 o mundo se veste da cor amarela afim de promover uma visibilidade às pessoas que, por algum motivo, tem tamanho sofrimento que lhes fazem pensar como única e última opção abreviar-lhes a vida.
O suicídio está entre as 10 causas de mortes mais frequentes. Na maioria dos países, é a segunda causa de morte violenta na faixa etária de 12 a 29 anos, porém, há casos documentados a partir dos 5 anos de idade. Estima-se que ocorre um suicídio no mundo a cada 40 segundos.
Hoje nós podemos descrever, e somos capazes de lidar e auxiliar a população através de orientações relacionadas a esse conteúdo, graças à visibilidade dada a esse fenômeno de características multifacetadas, ocasionalmente referido como a principal causa de morte desnecessária e prematura.
Primeiramente podemos dizer que mais de 90% das pessoas que cometem suicídio têm algum tipo de doença mental. As doenças mentais são as doenças provenientes do nosso cérebro, um órgão como qualquer outro de nosso corpo, que também está sujeito a adoecer, sem nosso controle ou vontade. A diferença de uma doença cardíaca para uma doença mental, por exemplo, está nos sintomas que normalmente elas causam, como dificuldade no controle da pressão arterial no caso do coração e alterações do humor, pensamento, raciocínio, clareza nas atitudes comportamentais, presença ou não de alucinações (como escutar vozes ou ver vultos) e delírios, que são sensações de estar sendo perseguido, por exemplo, são alguns dos sintomas causados pelas doenças que acometem o cérebro.
Extremamente comuns na população mundial, sempre houve certo estigma em relação a doenças mentais e aos médicos psiquiatras, capazes de diagnosticá-las e tratá-las. Nos últimos anos, as diversas doenças mentais têm ganhado maior visibilidade, pelo fato de atletas e artistas estarem expondo suas vidas pessoais em redes sociais, possibilitando pessoas que não fazem parte de seu círculo íntimo de amizades, se informarem sobre sintomas e tratamentos diversos, muitas vezes correlacionando tais sintomas com alguém de seu convívio próximo ou mesmo a si.
Na grande maioria das vezes, a pessoa, quando têm pensamento de morte com ideação suicida e planejamento, dá alguns sinais que são possíveis serem observados por seus próximos. Mas, como dito anteriormente, em se tratando de um fenômeno com diferentes facetas, esses sinais podem não estar tão claros aos que não possuem conhecimento nessa causa.
Podemos dizer que hoje sabemos alguns fatores predisponentes ao comportamento suicida, como idade mais jovem, pessoas sem relacionamento amoroso, algumas profissões, como em médicos, que possuem risco aumentado em até 400%, na presença de transtornos mentais, sendo uma chance 22 vezes maior em pacientes portadores de esquizofrenia, são mais prevalentes em doenças mentais como transtornos depressivos, transtorno afetivo bipolar, dependência de substâncias (álcool e outras drogas), transtornos de personalidade, pessoas que já sofreram algum tipo de abuso sexual e/ou emocional na infância, antecedentes pessoais de tentativas de suicídio e de automutilações ou antecedentes familiares de comportamento suicida, etilismo ou outros transtornos mentais. 
Casos como ruptura amorosa, perda de emprego, rejeição afetiva ou social, perturbações familiares, também são fatores de risco ao comportamento suicida. Por sua vez, estar empregado, gravidez, ou crianças em casa, suporte social positivo, religiosidade ou espiritualidade, com estrutura de sentido da vida, são fatores de proteção.
Sabemos também que, na maioria das vezes, o que se busca na tentativa de suicídio ou em autolesão sem intenção suicida, é o alívio de tensão, redução de sentimentos desagradáveis, autopunição, tentativa de recuperação de controle, ganho de atenção, melhora do humor e até experiência prazerosa.
No nosso contexto atual, pleno ano de 2022, onde estamos vivendo um clima de tensão e tristeza por pelo menos 2 anos, desde o início da pandemia da Covid-19, onde recebemos pressão psicológica por todos os lados, sentimos que talvez nos falte uma base de sustentação que possa nos segurar nos momentos mais difíceis da vida. Algo que sempre tivemos consciência é que somos seres sujeitos a estarmos vivendo nosso último dia de vida, a cada dia. Com a propagação de memes de internet, esse tema é amplamente abordado de maneira jocosa, onde tentamos pretender que devemos apreciar a vida loucamente, uma vez que não sabemos até quando teremos essa oportunidade. Porém, quando a morte bate a nossa porta ou de alguém querido, encaramos como uma martelada em nosso copo de água que já encontrava-se cheio, deixando-o estraçalhado com água fluindo por entre os cacos. 
Nunca em nossas vidas ou em nossa história, pudemos prever nossa morte, mas hoje podemos dizer que estamos extremamente amedrontados pela sua representação.
Talvez o texto desse ano contenha mais informações que a maioria está acostumada a ler e alguns possam ter se sentido tocado pelas palavras aqui ditas. E, qual o propósito disso tudo?
Nosso propósito é dizer às pessoas, que as equipes de saúde estão cientes dessas perdas prematuras que estão ocorrendo, podendo inclusive diferenciar, através de investigação minuciosa se a morte por uma overdose se trata de um “erro de cálculo” de um dependente químico ou de um suicídio consumado. E quem sabe poderemos em breve futuro desvendar se um aborto provocado por uma ex-futura mãe, não é senão a retirada de algo que lhe causava tão imensa dor, porém, que não lhe compromete a saúde física ao ponto de, comparativamente arrancar-lhe o coração, pela tremenda dor que sente em seu útero, que gestava um fruto, às vezes inesperado ou indesejado.
Sabemos que, além de médicos psiquiatras, psicólogos, enfermeiros treinados, psicanalistas, existem vários tratamentos que são compostos pela administração de medicamentos, pela prática de terapias alternativas como meditação, yoga, atividade física, envolvimento com artes e músicas.
Nosso principal objetivo é agir na prevenção e, para nós todas as vidas importam, como nos disse Viktor E. Frankl: “Precisamos aprender e também ensinar às pessoas em desespero que a rigor nunca e jamais importa o que nós ainda temos a esperar da vida, mas sim exclusivamente o que a vida espera de nós”. E, podemos garantir que a vida espera de cada um de vocês um futuro brilhante, de conquistas, amizades, construções, produções e realizações. Se você tem a impressão de que ninguém se importa com você, eu estou aqui para lhe dizer o contrário, porque eu, e muitos outros como eu, nos importamos, e muito!

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