Siamesas de Piquerobi passam por 3ª cirurgia de separação e se recuperam bem, diz hospital

Procedimento durou sete horas e deu continuidade à individualização das artérias e vasos sanguíneos; haverá mais duas intervenções até separação total

REGIÃO - DA REDAÇÃO

Data 17/03/2023
Horário 15:39
Foto: Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto
Cirurgia de sete horas completou 75% da individualização das artérias e vasos sanguíneos das irmãs
Cirurgia de sete horas completou 75% da individualização das artérias e vasos sanguíneos das irmãs

A terceira cirurgia para separação das irmãs gêmeas siamesas de Piquerobi, Allana e Mariah, foi realizada no último sábado, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto (SP). De acordo com a instituição, elas seguem em recuperação, em bom estado de saúde e estáveis, de acordo com os exames clínicos e de imagem. As duas estão se comunicando, movimentando-se e se alimentando bem e permanecem sob os cuidados da equipe multiprofissional e na companhia de seus pais. 

O procedimento, que durou sete horas, deu continuidade ao trabalho de separação da circulação sanguínea do cérebro das irmãs. Como a técnica da cirurgia se baseia em etapas, a cada procedimento são realizados 25% da separação dos cérebros. Assim, com a cirurgia feita no último sábado, foram completados 75% da individualização das artérias e vasos sanguíneos.

Até a separação total, estão previstos um procedimento cirúrgico para a colocação dos expansores de pele, que deve ocorrer em abril, e a última cirurgia, prevista para o final de julho.

A intervenção foi realizada por equipe composta por cerca de 40 profissionais de diversas áreas, como neurocirurgia pediátrica, cirurgia plástica, pediatria, radiologia, enfermagem e apoio.

Assim como nas cirurgias anteriores, o procedimento foi minuciosamente planejado com exames clínicos, laboratoriais e de imagem de ressonância magnética e tomografia computadorizada, integrados em sistema de realidade virtual, que permitem que os cirurgiões possam visualizar com óculos especiais a anatomia dos crânios, dos cérebros e dos vasos sanguíneos que serão abordados durante a cirurgia. A novidade nesta etapa foi a utilização de neuronavegador e realidade mista durante o procedimento cirúrgico.

Foto: Arquivo - Gêmeas siamesas são acompanhadas desde 2021 pela equipe do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto

Histórico de intervenções

A segunda cirurgia havia ocorrido em novembro do ano passado, com duração de nove horas, enquanto a primeira foi realizada em agosto do mesmo ano, com duração de 9h30.

A técnica utilizada foi desenvolvida e aprimorada pelo médico norte-americano James Goodrich. “Até os anos 1990, a cirurgia era realizada em só uma oportunidade. Com isso, os cirurgiões passavam de 24 até 36 horas no centro cirúrgico e os resultados não eram efetivos, já que fazer a separação de toda a circulação que se comunica parcialmente em uma única vez trazia um sério comprometimento cerebral para as crianças e poucas sobreviviam”, explica o professor Hélio Rubens Machado e chefe do setor de Neurocirurgia Pediátrica. “Assim, ele [Goodrich] desenvolveu a técnica chamada de estagiada: são quatro etapas como se fossem os pontos cardeais, completando todo o perímetro”, completa.

A equipe multidisciplinar acompanha as meninas desde 2021, quando ainda estavam na barriga da mãe.

Incidência rara

A incidência de gêmeos unidos pela cabeça é extremamente rara, representando um caso em cada 2,5 milhões de nascimentos.  

No Brasil, a primeira separação de siamesas craniópagas, as gêmeas Maria Ysadora e Maria Ysabelle, ocorreu em outubro de 2018 – após cinco procedimentos cirúrgicos – pela equipe do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. O caso foi acompanhado pelo próprio médico James Goodrich, referência internacional em intervenções com gêmeos siameses e que faleceu por Covid-19 em 2020. 

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