Sol de primavera, abre a janela

OPINIÃO - Durval Bertho Neto

Data 08/03/2022
Horário 04:30

Já choramos muito, muitos se perderam no caminho. Mesmo assim, não custa inventar uma nova canção que venha nos trazer: sol de primavera! Abre as janelas do meu peito. A lição sabemos de cor, só nos resta aprender. 
Beto Guedes

Iniciou-se na Quarta-Feira de Cinzas, dia 2 de março, a Quaresma. Contam-se 40 dias até o Domingo de Ramos, quando se inicia a Semana Santa que culmina com a Páscoa.
Historicamente, entre os cristãos, como reconhecimento do Concílio de Niceia, realizado no séc. IV, este é um período de consagração. Nestes 40 dias que antecedem a Páscoa (44 dias, desde Paulo VI), muitos cristãos dedicam-se a jejuns, caridades e longos períodos de oração e leituras bíblicas - principalmente nas tradições cristãs católica, luterana, ortodoxa e anglicana.
Estes 40 dias anteriores à Páscoa foram escolhidos como símbolo de outros importantes períodos de “40” descritos nas Escrituras Sagradas, que remetem à perseverança e consagração, como o jejum de Jesus no deserto, que durou 40 dias; o dilúvio ao qual Noé sobreviveu, que também durou 40 dias e 40 noites; a travessia do deserto por Moisés e os hebreus, que ocorreu em 40 anos, entre outros.
No mundo ocidental, notadamente no hemisfério norte, há uma atmosfera envolvente e progressiva presente no período da Quaresma: anuncia-se o final do inverno e o início da primavera. 
Esta transição é marcada pela evolução do rigor de temperaturas negativas para as mais amenas do solstício primaveril. Finda-se o inverno frio, aquecem-se os campos. Enquanto desabrocha a vida por todo lugar. 
E qual o maior símbolo desse ansiado período? A Páscoa, que recorda aos humanos gelados: a vida eterna que emana da ressurreição é o sol que entra pela janela da alma aquecendo, trazendo cor e alegria!
A Quaresma, em si, é um tempo dedicado à resignação, aos votos, aos compromissos, à renúncia.Há de se observar atentamente a questão da interioridade. De nada valem os votos e restrições sem a sinceridade daquele que se apresenta para votar.
Considerando a antiguidade, tradição e frutos historicamente presentes nas comunidades cristãs no período quaresmal, cabe o esforço de conservar o que tenta uni-las de alguma forma. Jejuar, orar, meditar, abdicar do mundo, nunca será empecilho à fé.
Ainda se vivem tempos difíceis. O inverno da pandemia parece se estender por demais. As gélidas notícias de guerras na Europa congelam nossa esperança de dias melhores. Tempestades frias de desânimo nos acometem com o aumento de más notícias. Vagamos pelas tundras da desilusão, do desemprego, da ansiedade. Ameaças de geadas de intolerância e desavenças aproximam-se com o período eleitoral. Que tempo de corações gelados!
Contudo, a Quaresma anuncia: vem o sol de primavera. Ela pede: abre a janela da alma, o inverno precisa acabar. 
É tempo de voltar às práticas de fé. Quaresma é revisão de prioridades. É esforço humano que se apresenta no milagre divino. É lembrança de perseverança, amor, paz e acolhimento.
O inverno vai passando. Depende de cada um aquecer dia a dia o coração com bondade, gentileza, acolhimento e tolerância.
Os tempos quaresmais anunciam o novo desabrochar dos jardins nas almas que, livres, rodeiam e embelezam o túmulo vazio.
É tempo de sinos tocando, celebrações, encontros benditos acontecendo em todo lugar... Para que a fé viva e ativa, aqueça a pobre gente fria, em quem Deus ainda acredita!

 

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