Sophia

António Montenegro Fiúza

«As minhas mãos mantêm as estrelas,
Seguro a minha alma para que não se quebre
A melodia que vai de flor em flor,
Arranco o mar do mar o ponho em mim
E o bater do meu coração sustenta o ritmo das coisas.»
Sophia de Mello Breyner Andresen, poetisa portuguesa

Como que a adivinhar-lhe a veia poética e sapiente, batizaram-na de Sophia, nome que descende do grego sophía e que significa, literalmente sabedoria e conhecimento; nome consentâneo independentemente da religião e do credo, uma denominação clássica e intemporal. 
Sophia de Mello Breyner Andresen foi uma das maiores poetisas portuguesas do último século, em 85 prósperos e profícuos anos de vida, recebeu 17 prêmios, de entre os quais o Prêmio Camões – com o grande mérito de ser a primeira mulher lusitana a recebê-lo; condecorações e homenagens múltiplas tanto dentro quanto fora de Portugal, até à transladação do seu corpo ao Panteão Nacional, em 2014 – o mais alto galardão que pode ser concedido a um cidadão português.
Em Sophia nota-se uma constante sinergia e identificação entre o ser e a natureza circundante, com temas recorrentes como o mar, o campo e os ambientes bucólicos, o lar – como sinônimo de aconchego e amor; parte, a autora, numa busca constante pela harmonia, pelo equilíbrio e pela justiça e houve quem nela perscrutasse um misto de idealismo e de naturalismo helénico. 
Tocou vários corações, com a expressividade do seu ser, fazendo com quem muitos, pela sua pena crescessem e se reconhecessem: com a “Fada Oriana”, conto infantil dos finais dos anos 50, proclamou a aceitação e a construção do ser e a aquisição de valores basilares; em “A Menina do Mar”, mostra-nos a importância da comunidade e de entender e aceitar o outro e as suas particularidades, fala-nos de saudade mas também de alegria. 
Nas suas mais de 21 obras poéticas, dez contos – de entre os quais oito infantis, cinco textos dramatúrgicos e oito ensaios, Sophia de Mello Breyner Andresen apresentou toda a veia emotiva da função poética da literatura, abriu-se ao mundo, mostrando a sua alma e o seu ser e fez com que o mundo nela se encontrasse.
«Os nosso dedos abriram mãos fechadas
Cheias de perfume
Partimos à aventura através de vozes e de gestos
Pressentimos paixões como paisagens
E cada corpo era um caminho.
Mas um se ergueu tomando tudo
E escorreram asas dos seus braços.

Florestas, pântanos e rios,
Viajávamos imóveis debruçados,
Enquanto o céu brilhava nas janelas.

E a cidade partiu como um navio
Através da noite.»
Sophia de Mello Breyner Andresen, poetisa portuguesa
 

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