Sublime Obsessão

DignaIdade

COLUNA - DignaIdade

Data 08/12/2020
Horário 06:44

Melodrama clássico do estilo do diretor Douglas Sirk, “Sublime Obsessão” (“Magnificent Obsession”) foi lançado em 1954. Rick (Rock Hudson), um playboy inconseqüente, provoca um acidente com sua lancha e o desvio de uma equipe de resgate para o seu salvamento acaba por provocar a morte de outro homem muito estimado na localidade pela ausência do equipamento. Ao tentar se redimir com a viúva, Helen (Jane Wyman), apaixona-se e acaba por provocar outro acidente que a deixa cega. Arrependido profundamente, ele vai estudar Medicina e tentar provar a todo custo que a ama e se redimir de suas ações. Grande sucesso que transformou Rock Hudson em astro e sua parceria com a atriz Jane Wyman resultaria em outro filme (“Tudo que o Céu Permite”), no ano seguinte. O filme era uma regravação de outro de mesmo título de 1935, que também alçou outro galã, Robert Taylor, à fama ao lado de Irene Dunne. 

“Geração do cancelamento”

Vivemos um momento inédito nas relações interpessoais e sociais com visões extremamente críticas do outro, com tolerância zero e dedos acusatórios em riste: a cultura do cancelamento. Todos têm muito mais acesso à informação e poder de opinião com as redes sociais eletrônicas: exercemos prazerosamente o livre arbítrio e o amplo poder de dizer o que pensamos e rechaçar o que não acreditamos. Este momento de igualdade digital permitiu grandes avanços das novas gerações com a condenação de velhos e arcaicos modos de pensar como o racismo, a discriminação, a desigualdade entre os gêneros (peno menos virtualmente). Atitudes indignas que teriam ao máximo uma repercussão local dos acontecimentos passam a ter dimensões continentais com o compartilhamento de imagens e notícias. O olhar digital permite um excelente controle de ações erradas: quando algo fere profundamente a ética e a civilidade, existe uma corrente indignada que repercute as mesmas sensações e revoltas de pessoas que estão exercendo cidadania e empatia. No entanto, junto a tais avanços houve a criação de uma patrulha constante sobre o que o outro diz, principalmente famosos, artistas, políticos, celebridades e influenciadores. Todos precisam ser perfeitos e qualquer deslize neste ideal de correção e postura pode gerar o fuzilamento digital do ser imperfeito. Não é suficiente apenas discordar do pensamento do outro, é necessário aniquilar com a imagem de quem cometeu a ousadia de não fazer parte da mesma voz uníssona. Obviamente não estou falando de posturas e atitudes que vão contra a legalidade ou o bom senso (quem comete crimes, digitais ou reais, não merece outra postura a não ser a de repúdio), e sim de divergência de opiniões. Posicionamentos políticos, inconsequências banais ou distrações cotidianas são motivos para bombardeamento e condenação dos autores das ações. A internet passou a ser uma espécie de justiceira social que busca a perfeição redundante: impecável, primorosa, lapidar. Tudo ficou potencialmente ofensivo, trágico e imperdoável, misturando a necessidade premente de muitas pessoas entenderem que alguns posicionamentos não são mais possíveis, mas, também, que não é necessário por na mesma equação indignações humanas com banalidades individuais. 

Dica da Semana

Livros 

“Woody Allen: A Autobiografia”: 
Subtítulo: A propósito de Nada. Editora Globo Livros. O escritor, ator e diretor Woody Allen traz um relato corajoso acerca de sua vida com passagens turbulentas e episódios traumáticos. O criador de clássicos como “Hannah e suas Irmãs”, “Annie Hall – Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” e “Manhattan” relembra sua vida pessoal e carreira em um livro cômico e ao mesmo tempo profundo. 
 

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