Tentar ele tentou, não deu, ele virou foca

Persio Isaac

CRÔNICA - Persio Isaac

Data 21/08/2022
Horário 06:00

Fevereiro de 1986, dia do desfile das escolas de samba no Rio de Janeiro. Tempo fechado e o meu irmão Roy estava na concentração da Beija Flor se aquecendo com seu pandeiro. O tema da Beija Flor falava da invenção do futebol, que se chamava “O mundo é uma bola”. 
O genial Joãozinho Trinta era o carnavalesco e o lendário Neguinho da Beija Flor entrou na área: Olha a Beija Flor ai gente, chora cavaco: "É Milenar/ a invenção do futebol... Roy vai sentindo toda a adrenalina ao som da poderosa bateria e está pronto para entrar na avenida. De repente, ele para. Fica impressionado com a habilidade de um negro no controle da bola de futebol. Bola no pé, no pescoço, na cabeça, na coxa, põe na testa sem parar um instante. Um malabarista da bola. E naquele tempo não tinha esse tipo de malabarista da bola.  
Roy encantado com esse fenômeno pergunta para um desconhecido: Quem é esse cara? O carioca da gema com seu humor raiz diz: Tu não conheces não? Era uma heresia não conhecer aquele negro esguio com tamanha habilidade. Não conheço, respondeu Roy. Pô, esse é Jorge Maravilha. 
A chuva começa a cair de maneira torrencial e Jorge Maravilha não deixa a bola cair. Roy ainda maravilhado fala: Rapaz, esse cara com essa habilidade deveria ter tentado jogar futebol. O desconhecido carioca com toda sua carioquice diz: "Tentar ele tentou, não deu, ele virou foca". Jorge Maravilha estava equilibrando a bola no seu nariz. 
Roy me ligou na madrugada para contar essa passagem e rimos da resposta genuína do espírito carioca. Essa criativa, expressão carioquês adotamos para justificar com bom humor qualquer tentativa de qualquer natureza que não deu certo: E aí conseguiu charlar (convencer) a mina? "Eu tentei e virei foca". Vejam vocês!

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