A crise de 1929 veio como um forte furacão arrastando a esperança, matando a fé, destruindo sonhos e empregos e o futuro de uma nação escureceu. No seio desse ambiente complexo e conturbado, uma família de agricultores, muito debilitada financeiramente, era forçada a compartilhar 75% do que produziam aos senhores da terra. O suor do trabalho não era sagrado, era explorado.
O pequeno Charles era mais uma boca para ser alimentada entre os 25 filhos, fruto de dois casamentos de seu pai. Desde a sua infância sabia que teria que lutar muito para sobreviver. Seu pai era alcoólatra e violento. Sua vida iria ser marcada pelas surras que sofria e iria carregar as cicatrizes dessa violência pelo resto dos seus dias.
A vida rural no Arkansas não era nada fácil. Resolveu ir procurar sua mãe e seus irmãos em St. Louis. Não tinha o endereço e passou a ser mais um menino perdido sob as luzes sedutoras da cidade grande. Por uma sorte do destino acabou encontrando sua mãe. Na escola sofria bullying por não saber ler e nem escrever. O aprendizado que iria aprender seria a dura realidade da rua. Começou a trabalhar e sentiu a exploração como seus pais. Ganhava apenas 15 dólares por semana vigiando bens roubados e limpando galinhas.
Aos 16 anos, já comandava uma gangue. Tempos depois foi preso e foi condenado a cinco anos na Penitenciária do Missouri. Sua brutalidade era famosa. O diretor na parte de esportes era pastor da prisão, o reverendo Alois Stevens que o aconselhou a aprender a lutar boxe. E todos viram que Charles tinha nascido para praticar a sétima arte. Seu talento natural e com o pastor ao seu lado, conseguiu a liberdade condicional. Subiu rapidamente no boxe derrotando até o campeão olímpico das Olimpíadas de Helsinque, Ed Sanders.
Seu treinador Johnny Tocco o chamava de "a máquina de matar”. Seu alcance era de 2 metros e seu punho fechado media 38 centímetros. Ganhou o apelido de Big Bear (grande urso). Se tornou um fenômeno e campeão mundial.
O chefe da máfia, John Vitale, possuía 12% do contrato de Charles L. "Sonny" Liston. Naquela época era difícil escapar das garras do crime organizado. Em 1962 ele vai lutar contra o campeão mundial, Floyd Patterson. A luta acaba no primeiro round quando Sony Liston acerta a mandíbula de Patterson, que beija a lona. A revista Sports Illustrated escreveu: "aquele gancho final de esquerda foi de encontro com o rosto de Patterson como um caminhão descendo a ladeira, sem freios". Mas a imprensa o desprezava e não havia ninguém quando ele desceu no aeroporto da Philadelphia. A multidão que ele ansiosamente aguardava não estava lá. Seus olhos percorreram o vazio no horizonte e dava para ver a decepção e a tristeza em seu olhar.
A Philadelphia não queria nada com ele. O menino pobre que venceu a miséria com seus punhos estava viciado nas drogas e gostava de beber. Os demônios foram mais fortes que Deus. Quando o ator Sylvester Stallone assistiu a luta na qual Sonny Liston derrotou Chuck Wepner sentiu naquele homem um exemplo de superação. Se inspirou e criou o lendário filme “Rocky, um lutador” em 1976.
Sonny Liston morreu aos 38 anos de idade num Natal mais solitário de sua vida. O Big Bear adormeceu o sono da morte, ela o tirou da solidão e da sua vida obscura. Talvez na morte tenha encontrado a paz sonhada. Tempos depois o Iron Man, Mike Tyson, foi visitar seu túmulo em Las Vegas. A imprensa sedenta de curiosidade e de notícias perguntou o que ele estava fazendo no cemitério. Ele disse: "Vim visitar o túmulo de Sonny Liston em sinal de respeito, aqui está enterrado um "homem".