Vereador levanta discussão sobre tratamento precoce com ivermectina

Posicionamento de Enio Perrone durante sessão na Câmara vai contra recomendações da Associação Médica Brasileira, que condenou uso de remédios sem comprovação científica

PRUDENTE - GABRIEL BUOSI

Data 25/03/2021
Horário 07:15
Foto: Reprodução/Internet 
Enio Perrone levantou questões do tratamento precoce durante sessão na Câmara 
Enio Perrone levantou questões do tratamento precoce durante sessão na Câmara 

Na semana em que a AMB (Associação Médica Brasileira) divulgou que condena remédios sem eficácia comprovada contra a Covid-19 e disse que eles devem ser, portanto, banidos, uma fala do vereador e médico de Presidente Prudente, Enio Luiz Tenório Perrone (DEM), movimentou a cidade ao contrariar tal recomendação. Isso porque, durante sessão na Câmara, com imagens disponíveis na internet, o vereador defendeu o tratamento precoce de pacientes com sintomas de Covid-19 por meio de medicações combinadas, como a Ivermectina. Vale lembrar que, no mês passado, a própria fabricante do remédio divulgou que não existem evidências de que a medicação funcione contra a Covid-19. Outra fala do vereador, essa sobre deixar receitas já assinadas, levantou polêmica.
Durante a sessão na Câmara Municipal, Enio afirmou que já havia conversado com o prefeito Ed Thomas (PSB) e solicitado a implantação desse procedimento de tratamento precoce, a exemplo do que, segundo ele, outras prefeituras já haviam adotado. “É o que vai diminuir as internações. Aqueles pacientes que quiserem terão o tratamento precoce com azitromicina e ivermectina”. 
Ainda conforme o vereador, ele teria tido acesso a uma “coleção de trabalhos” que comprovam a eficiência desse tratamento, na diminuição da gravidade da situação pandêmica, mas ele não apresentou quais estudos seriam esses. Além disso, Enio afirmou na sessão que, ao que tudo indica, houve uma sinalização favorável por parte do município sobre essa ideia. 

Ponto polêmico

Durante a sua defesa em relação ao tratamento precoce, uma fala chamou a atenção. Isso porque, Enio Perrone, que também é médico, afirmou que poderia deixar “receitas e receitas assinadas” para que depois fossem preenchidos os nomes de pacientes que quisessem tomar as medicações, em alusão ao fato de que alguns médicos ainda se recusam a prescrever estes medicamentos. “A maioria dos profissionais faz a receita, mas alguns não querem porque acham que não tem fundamento científico, mas existe sim”. Após a fala de Enio Perrone, outros membros da Câmara se manifestaram favoráveis e de acordo com a fala. Procurada, a casa não se manifestou sobre o caso, e disse que a opinião pessoal do vereador deve ser colhida com ele. 

Vereador se defende

Para a reportagem, o vereador afirmou que é preciso deixar claro que a fala dele se deu em cima de tratamento precoce, e não preventivo. “Isso é outra discussão. Eu queria falar sobre o que eu acredito, que é o tratamento precoce, ou seja, assim que tiverem sintomas, os pacientes poderão iniciar um tratamento. Essa medida, em cidades que foram prescritas, tiveram resultados melhores”. Ainda conforme Enio, sobre a fala dele de que poderia deixar “receitas e mais receitas” assinadas, o vereador apontou que a frase foi uma “expressão para apoiar o prefeito”, de forma que ele implantasse o tratamento precoce. “Em 53 anos de profissão, eu não iria cometer uma atitude dessa”. 

Cremesp analisa a fala

De acordo com o conselheiro da delegacia do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) de Presidente Prudente, Henrique Liberato Salvador, houve uma dicotomia em relação à prescrição ou não desses remédios, em especial entre o Conselho Federal de Medicina e a Associação Médica Brasileira. “No ano passado, o Conselho Federal de Medicina baixou uma portaria dando aos médicos a autonomia para prescrever os medicamentos necessários aos pacientes, de forma que esse médico seria responsável por eventuais danos que esse medicamento pudesse causar”. Lembrou, no entanto, que nesta semana veio a publicação da Associação Médica Brasileira, que condena o uso desses remédios. “Já sobre a fala de que alguém deixaria receitas sem o nome do paciente para serem utilizadas numa unidade de saúde, isso constitui uma infração ética. O médico não pode fazer prescrição para um doente que ele não examinou”, pontua o conselheiro.

E o que diz a Prefeitura?

Como deu a entender, na fala do vereador, que a Prefeitura havia supostamente sinalizado positivamente para a ideia de aderir ao tratamento precoce, a reportagem solicitou um posicionamento da administração municipal. Em nota, a Prefeitura informou que a prescrição de medicamentos aos pacientes é uma prerrogativa da classe médica, portanto, o profissional de medicina tem autonomia para receitar o tratamento que julgar conveniente para cada caso, não havendo qualquer interferência do poder público.
Afirmou ainda que, inicialmente, o paciente que passar pelo Centro de Triagem poderá, em conjunto com o médico, chegar ao consenso de adotar uma assistência precoce aos sintomas iniciais da Covid-19, e que esse paciente também poderá retirar a medicação que o médico julgar necessário na farmácia da Unidade de Saúde da Cohab. “Informamos ainda que as medicações de assistência precoce disponibilizadas na rede municipal são provenientes de doações da sociedade civil, não gerando custos à Prefeitura e também não havendo estoque”.

Foto: Freepik

uso de medicamentos covid presidente prudente
Autoridades da saúde não recomendam tratamento precoce a pacientes com Covid-19

Publicidade

Veja também