“Hoje o Museu de Arqueologia de Iepê tem 130 mil peças catalogadas”

Neide Barrocá Faccio, professora da FCT/Unesp e curadora do MAI

VARIEDADES - WEVERSON NASCIMENTO

Data 09/01/2020
Horário 05:00
 FCT/Unesp - Neide Barrocá Faccio recebeu expressivas homenagens da Câmara Municipal de Iepê, com o título de Cidadã Iepeense
FCT/Unesp - Neide Barrocá Faccio recebeu expressivas homenagens da Câmara Municipal de Iepê, com o título de Cidadã Iepeense

A professora da FCT/Unesp (Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista), Neide Barrocá Faccio, recebeu expressivas homenagens da Câmara Municipal de Iepê, com o título de Cidadã Iepeense. A solenidade foi atribuída aos relevantes serviços prestados pela arqueóloga e também curadora do MAI (Museu de Arqueologia de Iepê). Hoje, a unidade contém 130 mil peças catalogadas, numeradas e descritas. Segundo ela, foi emocionante receber o amor e a gratidão diante da homenagem. “O que eu faço lá, eu faço porque sou apaixonada pelo que faço, e eu sei que eles me deram esse presente porque sei que também são apaixonados pelo museu, e por todo valor cultural que tem o acervo na cidade”. Aproveitando essa oportunidade da menção honrosa, nesta entrevista você terá a oportunidade de conhecer a história deste espaço de grande importância regional.

Como foi se deu o início do Museu de Arqueologia de Iepê?
Em 1998, houve uma grande seca do Rio Paranapanema e começaram a aparecer peças. Antes disso, um professor da Unesp de Assis me disse que um fazendeiro de Iepê tinhas muitas peças arqueológicas e eu entrei em contato. Era o senhor Roberto Ekman Simões, que me doou quatro caixas de cerâmica. Aí eu achei o material interessante e comecei analisar. Um ano depois, o fazendeiro me convidou para conhecer o local, a gente encontrou sete sítios Guaranis e dois de caçadores coletores com distância entre dois e três quilômetros a beira do Rio Paranapanema. Eu fiz meu doutorado com esse material e quando eu comecei escavar, encontrei uma grande urna funerária Guarani, a maior encontrada até hoje no brasil. E em todos os sítios tinham peças inteiras, porque à medida que o lago baixou, as peças começaram a aparecer.

Depois das descobertas quais foram os procedimentos?
Eu comecei escavar e a população de Iepê me acompanhava, principalmente os professores e os comerciantes. E eles queriam que se montassem um museu porque as peças iriam para o Centro Regional de Arqueologia de Piraju, que é da USP [Universidade de São Paulo], e que ficava com as peças do Vale do Paranapanema. Então, a população de Iepê fez um movimento e conseguiu, junto com o prefeito na época, um espaço para montar o museu. Montamos com a ajuda dos professores e dos comerciantes. Tínhamos ajuda tanto financeira, quanto de trabalho e organização. Então, montamos o museu em 2000. Depois conseguimos outro espaço, definitivo.

“O QUE EU FAÇO LÁ, EU FAÇO PORQUE SOU APAIXONADA PELO QUE FAÇO, E EU SEI QUE ELES ME DERAM ESSE PRESENTE PORQUE SEI QUE TAMBÉM SÃO APAIXONADOS PELO MUSEU, E POR TODO VALOR CULTURAL QUE TEM O ACERVO NA CIDADE”

Neide Barrocá Faccio

Hoje quais são as parcerias do museu? 
Temos uma parceria com a Diretoria de Ensino, em que promovemos cursos de atualização em arqueologia para professores, além de oficinas para as crianças. E também com a Prefeitura de Iepê desde 1998. Então, todo o material que encontramos em Iepê trazemos aqui para o Museu de Arqueologia da Unesp – faz a limpeza, as análises e a numeração, preenche os registro junto ao Iphan [Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional] e devolve o material para Iepê. Sempre temos o apoio da comunidade para manter o museu.

Quais os tipos de objetos que mais são encontrados na região?
Antes de tudo, a forma mais fácil de encontrar é através do caminhamento, ou seja, olhar para o chão. Também contamos com os geoindicadores arqueológicos – fonte de água, argila para fazer a cerâmica e ter as pedras para fazer o lascamento. Aqui temos grandes vasilhas, urnas funerárias, porque o que restou de inteiro está enterrado. Geralmente quando os índios saem, eles não deixam peças inteiras no aldeamento. Então, as que são inteiras são as enterradas, que são de cemitérios indígenas, e, dentro delas, eles colocavam oferendas que são potes menores com uma pintura muito requintada. O Museu de Arqueologia de Iepê hoje tem 130 mil peças catalogadas, numeradas e descritas.

PERFIL
Nome: Neide Barrocá Faccio
Idade: 54 anos
Formação: Graduação em Geografia - FCT/Unesp; Direito – Unoeste (Universidade do Oeste Paulista); Mestrado em Antropologia Social - USP (Universidade de São Paulo); Doutorado em Arqueologia – USP; Pós-doutorado Arqueologia da Paisagem - Instituto Politécnico de Tomar (Portugal).
Naturalidade: Presidente Prudente
Contato: nfaccio@terra.com.br

 

 

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