“Tudo o que eu faço é para que algo aconteça”

VARIEDADES - GABRIEL BUOSI

Data 11/05/2019
Horário 08:20
José Reis: Boias espalhadas pelas piscinas fazem parte da ação que visa conectar as pessoas
José Reis: Boias espalhadas pelas piscinas fazem parte da ação que visa conectar as pessoas

Ana Teixeira

ARTISTA

 

Desde o início dessa semana, o Sesc Thermas de Presidente Prudente conta com uma instalação visual que chama a atenção dos usuários da unidade logo na entrada. É que aqueles que se dirigem ao vestiário, para, em seguida, usar o complexo de piscinas, se deparam com uma proposta da artista Ana Teixeira e que, sem dúvidas, promove uma reflexão sobre as relações e interações dos indivíduos.

A parede com tons de azul, com desenhos de pessoas interligadas, justamente por causa da tonalidade exata da água da piscina traz uma verdadeira sensação de que você, antes mesmo de se molhar, já está embaixo d’agua. E não para por aí, ao chegar ao espaço dedicado ao mergulho e lazer, as pessoas se deparam com boias, cada uma com uma palavra, e que dão a possibilidade de uma interligação e criação de 200 bilhões de palavras. E, acredite, o número não é simbólico e nem figurativo.

Com isso, na intervenção “Nós em Mim”, a artista afirma que busca suscitar reflexões acerca da participação do artista no mundo atual, o comprometimento da arte com a política, bem como as estratégias e procedimentos necessários “para que algo aconteça”, título de seu último livro. “Eu me dei conta de que, nesses 20 anos de trabalho, tudo o que eu faço é para que algo aconteça. Interessa-me o acontecimento, o que o frequentador do Sesc vai fazer quando ele se deparar com aqueles desenhos nas paredes e com as boias nas piscinas. Eu quero causar pequenos curtos-circuitos no cotidiano das pessoas”, comentou Ana.

A reportagem esteve na unidade prudentina para um bate-papo com a artista. Confirma abaixo os principais pontos da conversa:

 

O Imparcial: Como a arte entrou na sua vida?

Ana: A literatura e o cinema estão na base de todo o meu trabalho, pois me alimento disso. Na minha casa ambos sempre foram sempre muito presentes, já que meus quatro irmãos todos desenham e tocam instrumentos. Inicialmente, eu não sabia que existia uma faculdade de Artes, foi por isso que entrei a princípio no Serviço Social, o que já mostra meu interesse por gente.

Tive toda uma trajetória e trabalhei com diversas coisas e em diversas áreas, até que, com 37 anos, resolvi prestar o vestibular de uma universidade pública de Artes, em Uberlândia, e foi quando se abriu um novo horizonte na minha frente e vi que ali era o meu lugar. Hoje moro em São Paulo e terminei a graduação com 42 anos. Por isso costumo dizer que nunca é tarde, ainda dá tempo.

 

Como descreveria o seu trabalho?

Costumo dizer que a matéria-prima do meu trabalho são as pessoas. No meu caso, preciso de instrumentos para trabalhar com essa matéria-prima, como as ações e intervenções, e quando consigo misturar com o desenho, que é minha prática mais constante, e o que fiz aqui também, fico ainda mais satisfeita.

 

E a intervenção montada no Sesc, como foi pensada?

A iniciativa já foi feita no Sesc Thermas de São Carlos e ela une essas duas coisas que eu amo, o desenho e a interação. Na ação, temos as pessoas conectadas obrigatoriamente por ganchos e é uma provocação mesmo, para que elas pensem quais são as relações em que nos colocamos e como elas nos prendem.

Para isso, na entrada do corredor que dá acesso às piscinas, usei o tom de azul que remete à água, para que cada um tenha a sensação de já estar dentro dela. Ao verem a intervenção, cada um pode deixar ou não se envolver, e quando chegam à área da piscina, se deparam com as boias que podem se tornar combinações. Essa também é uma forma de provocação e no meu trabalho as palavras são muito importantes. Ao todo, são 14 palavras e que possibilitam formar mais de 200 bilhões de frases.

 

Qual a importância de levar a arte para ambientes públicos e institucionais?

Essa é outra preocupação do meu trabalho. Além de me interessar por gente, penso em romper com esses espaços privilegiados da arte, como museus e galerias, já que lá você vai preparado e a surpresa é menor diante do que é visto. Aqui, ao entrar na piscina, por exemplo, a pessoa tem uma provocação pela arte, mesmo sem saber que se trata de uma arte. De qualquer forma, elas acabam interagindo e participam apenas de olharem ou de estarem presentes.

 

E a importância de uma ação como essa no contexto atual em que vivemos?

Faz ainda mais sentido. Mesmo tendo sido idealizada em 2011, provoca uma reflexão de que uma boia sozinha é só uma palavra, mas ao unir-se com outras, possui 200 bilhões de possibilidades. Nesse momento que vivemos, principalmente político e social, o eu sozinho não dará conta de toda a pressão, diferente do coletivo.

 

Serviço

Instalação: Nós em Mim

Desde o dia 07/05.

No corredor dos vestiários e no Parque Aquático.

 

O Sesc Thermas é aberto ao público e fica na Rua Alberto Peters, 111, no Jardim das Rosas. O telefone para contato é o 3226-0400. A programação completa, com as informações de cada atividade, pode ser consultada em www.sescsp.org.br/prudente.

 


 

 

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