Ciclo das lorotas chega ao fim

OPINIÃO - Gaudêncio Torquato

Data 22/01/2020
Horário 04:18

As lágrimas do comediante, disse um dia Denis Diderot, filósofo francês e estrela do Iluminismo, escorrem de seu cérebro; as do homem sensível, jorram de seu coração. Na política também é assim. Políticos, como atores, vivem de representações. E criam projeções que passam a se confundir com os personagens que representam. Poucos, muito poucos, podem dizer que o “eu” e o “ele” são a mesma coisa. Alguns construíram perfis sobre um conceito negativo, que, de tanto banalizado, passou a ser aceito pelos cidadãos. É o caso, por exemplo, do “rouba, mas faz”.

Muitos esticam o ciclo de sua vida política graças à caricatura que moldaram. É o caso de protagonistas com o carimbo de “obreiros, estradeiros, fazedores, pai dos pobres, desenvolvimentistas, heróis da pátria”.

Até hoje, comediantes têm impressionado suas plateias, não por dizerem a verdade, mas por dourarem muito bem  a pílula, ou seja, por terem boa performance no teatro da política. Ocorre que o ciclo dos histriões, estes que sobem aos palcos para comover a audiência, está chegando ao fim. A máscara das promessas começa a ser retirada dos atores políticos por grupos, movimentos, núcleos, que clamam por atitudes éticas e morais.

A quebra de paradigmas (que apareceu na eleição de outubro passado) sinaliza o enterro de uma era, o declínio do engodo, o combate à mentira, o fim de promessas mirabolantes. As águas do populismo começam a escassear na fonte.

O populismo ganhou culminância na era getulista (anos 30) e prosseguiu em outros ciclos: o desenvolvimentismo de Juscelino Kubitschek; o trabalhismo de João Goulart; o estilo autoritário de Jânio Quadros; o matiz  nacionalista de viés esportista de Garrastazu Médici nos anos de chumbo; o olimpismo-modernizante de Fernando Collor; o apartheid social (“Nós e Eles”) de Lula da Silva, para registrar apenas alguns movimentos.  

O populismo de ontem se banhava nas emoções da plebe e em grandes mobilizações. Hoje, não há mais comícios. E as manifestações de rua ganharam outros focos, principalmente na órbita dos serviços públicos. A massa está desconfiada e a mídia assopra brasa na fogueira de escândalos. O rolo que a Lava Jato começou a desenrolar esfumaça o ambiente.

Os espectadores da cena política não querem se entregar mais às ilusões, preferindo exercitar seu espírito crítico, tirar atores do palco e denunciar a encenação dos personagens.

A indignação popular atinge altos índices. O povo percebe quando o discurso político não passa de encenação canhestra.  Não quer mais pagar tributo por um expressionismo cênico, caricatural, grotesco, mímico, demagógico.

 

 

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