Copa e patriotismo

OPINIÃO - Arlette Piai

Data 19/06/2018
Horário 05:00

Entre os esportes, o futebol fascina no mundo inteiro milhares pessoas. Nenhum dos esportes praticados – seja o beisebol dos Estados Unidos ou as lutas vindas do Japão – conseguiu, até hoje, alcançar a popularidade do futebol. As pessoas encarnam sentimento ufanista e vestem as camisas de suas seleções. E no Brasil, conhecido como o país do futebol, não seria diferente. Aqui, em ano de Copa do Mundo, veste-se de bandeira com o verde e amarelo, durante um mês o país para, para torcer e exaltar o orgulho nacional. Mas enquanto isso, todos os outros assuntos como eleição perdem a importância.

Na visão do homem atual, parece nascerem valores como participação, desejo de tornar a sociedade menos impessoal e mais humana, valorização da autoexpressão. É nesse contexto que o futebol da seleção brasileira parece tornar as pessoas mais conectadas e participativas. Também no contexto crítico a que o povo brasileiro enfrenta cresce a necessidade, ainda maior, de reconhecimento, de valorização, e desejo de ser campeão, de alguma forma. Erguer a taça ao final da competição, no espaço aberto para pobres e ricos, brancos e negros, elitistas e favelados, é demonstrar que “o Brasil ainda tem garra, é capaz”, o que equivale em termos de identificação: nós, brasileiros, somos capazes.  

Este momento, no entanto, deveria ser também de fortalecimento da real identidade nacional. Mas nem a mídia, que exerce tanto poder nas massas, colabora. Os canais de televisão tornam-se “tóxicos de bola”, é raro se ver outra notícia ou debate que não a Copa do Mundo. É importante, sim, participar da festa, sorrir, gritar, torcer pelo Brasil, mas não só para o futebol.  O patriotismo deve ser um sentimento de participação muito ativa, de união dos brasileiros, como ocorre na Copa, mas dirigi-lo também e principalmente para melhorar o Brasil. E mais que isso, é preciso acreditar nesse sentimento de união e poder da população para abolir favelas, para melhorar a infraestrutura abandonada, melhorar o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do povo; enfim para fazer “o Brasil ganhar de verdade”.

Desde as crianças, jovens, adultos, meia idade e velhos, todos conhecem e discutem o futebol. Sabem o nome dos jogadores, a função de cada um no campo e até a vida pessoal. Será que existe esse mesmo interesse, conhecimento e discussão do povo acerca daqueles que dirigem nossos municípios, Estado e a nação? Se tal fato ocorresse, não teríamos chegado onde chegamos. A verdade está estampada: o grande astro é o futebol, não os interesses nacionais, a eleição. Surge assim a polêmica: Ser patriota é vestir verde e amarelo e saber cantar o Hino Nacional? Patriota são todos que, por amarem a pátria, sabem organiza-se para defender os interesses da nação, fiscalizam aqueles que foram eleitos. Patriota participa, aplaude, vaia e até briga pelos ideais da pátria, como o fazem pelo time de futebol que ama. Só assim podemos construir a pátria “mãe gentil”, não tão gentil; cantada e exaltada nos estádios de futebol.  

Publicidade

Veja também