Itinerário quaresmal

OPINIÃO - Sandro Rogério dos Santos

Data 01/03/2020
Horário 06:07

A Quaresma é o “tempo favorável pelo qual se sobe ao monte santo da Páscoa”. O centro desse tempo litúrgico é a Páscoa de Cristo, a festa mais importante do ano. Antigamente, era o período durante o qual, através da penitência e da provação, os catecúmenos se preparavam para receber o batismo na noite da Páscoa. Em Roma, há registros de sua celebração desde o século IV.

Coube ao Concílio Vaticano II (1962-1965) o encargo de acentuar o caráter batismal e penitencial deste tempo, visando a “preparar os fiéis, que devem ouvir com mais frequência a Palavra de Deus e dar-se à oração com mais insistência, para a celebração do mistério pascal” (SC 109). A liturgia ajuda a viver esses aspectos com sinais exteriores (proibição de ornar o altar com flores, o toque de instrumentos musicais só é permitido para sustentar o canto, omissão do Glória e do Aleluia antes do evangelho...), e com as leituras da Palavra de Deus e da riqueza das orações eucarística e a Liturgia das Horas.

A Igreja recomendou tradicionalmente aos batizados a prática do jejum, da oração e da esmola (caridade). Neste sentido, o Código de Direito Canônico pede aos católicos em seu cânon 1251, entre outras coisas, observar o jejum na quarta-feira de cinzas e na sexta-feira santa (da Paixão), bem como abster-se de carne todas as sextas-feiras do ano.

Sempre ouvimos dizer que a Quaresma tem “quarenta dias”. A própria etimologia o indica: “quadragesima dies”, o quadragésimo dia. O numeral 40 tem forte simbolismo bíblico: por exemplo, os anos de peregrinação do povo de Israel pelo deserto e os dias que Cristo passou no deserto. Entretanto, numa conta rápida, entre a quarta de cinzas e o dia da Páscoa transcorrem 46 dias. Por quê? Uma razão histórica: nos primeiros séculos do cristianismo se jejuava durante toda a Quaresma, menos aos domingos; por isso, foram acrescentados outros seis dias para suprir o jejum desses seis domingos. A segunda razão é histórica e espiritual: pensava-se que Cristo foi preso na quarta-feira antes de sua paixão (disso há registros nos séculos II e V).

Quaresma é, assim, um itinerário de conversão. Iniciado com as cinzas, símbolo de penitência e chamado à mudança de vida (“convertei-vos e crede no evangelho”), seguimos até à Páscoa, guiados pelo Espírito Santo e alimentados pela Palavra de Deus para vencermos todas as tentações e ressurgirmos para uma vida nova. Treinamos com orações, jejuns e caridade o autodomínio e a vitória sobre o egoísmo e a ganância, colocando Deus e os outros no centro.

Seja bom o seu dia e abençoada a sua vida. Pax!!!

 

 

 

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