Poesia ou raiz quadrada?

OPINIÃO - Fernando Teixeira Luiz

Data 12/12/2019
Horário 04:16

Sou professor universitário e também trabalho nos ensinos fundamental e médio. Leciono literatura, disciplina marcada por grandes histórias, personagens inesquecíveis e autores emblemáticos. É importante o contato com os jovens leitores, as respostas imediatas, o fascínio (ou mesmo a decepção!) para com determinado poeta.

Vale lembrar que embora muitos jovens cumpram com suas “obrigações” de leitura na escola, nem sempre são tocados pelo “raro poder fecundante” (como já diria Monteiro Lobato) dos livros de literatura. São garotos, via de regra, excepcionais, brilhantes, de ampla bagagem cultural, mas que se sentem mais motivados por textos voltados a cálculos, equações e demais áreas tecnológicas.

Ainda que muitos pais rotulem jovens com tais perfis como “não leitores”, creio que seja desnecessária a preocupação. Isso indica que o adolescente apresenta nítida afinidade e habilidades não direcionadas para o tipo de material de leitura que até então estamos acostumados a oferecer. Decerto haveria entre eles um encorajamento maior para com propostas que sublinhassem o raciocínio lógico.

Embora muitos jovens cumpram com suas “obrigações” de leitura na escola, nem sempre são tocados pelo “raro poder fecundante” dos livros

Se quisermos insistir no consumo de textos literários, convém repensarmos o que estamos indicando. Talvez outros ramos da literatura, até então pouco explorados nos currículos escolares, conseguissem atender com sucesso às expectativas e necessidades dessa demanda.

A obra de Malba Tahan é um exemplo. Enveredando por narrativas permeadas de desafios matemáticos, seria uma ótima pedida. Em outro polo, a ficção científica poderia ser igualmente destacada como um gênero capaz de atender ao citado segmento juvenil, e aqui torna-se oportuno sugerir três romances de Julio Verne: “Viagem ao Centro da Terra”, “Da Terra à Lua” e “Vinte Mil Léguas Submarinas”.

Portanto, é importante oferecer liberdade para que o adolescente faça suas escolhas, como é também necessário que o professor, como mediador de leitura, procure introduzir novos títulos com a meta de ampliar os horizontes culturais de seus alunos. Afinal, se já são leitores, precisamos de textos que atinjam e despertem outra potencialidade: a sensibilidade estética. E isso só pode ser provocado por meio da arte. E nada mais. 

 

 

 

 

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