Postos temem faltar combustível a partir de hoje                        

“Todo mundo depende do transporte”. Esse é a fala do presidente do Sindicato das Empresas de Transportes e Logística de Prudente e Região, Antônio Carlos Fernandes, ao analisar a greve dos caminhoneiros que assola o país desde o início da semana. Na prática, não é difícil ver isso confirmado, principalmente quando o assunto é o preço do combustível e, por que não, combustíveis? O diesel, pivô central das paralisações, em uma semana chegou a subir, em média, 7,57%, em Presidente Prudente. É só dar uma volta na cidade para ver que o valor pode ser encontrado até por R$ 4,099, cifra historicamente inexistente. Isso mostra que as ações dos motoristas não demoraram muito para traduzir em reflexos regionais. E mais do que onerar os valores, a preocupação também está atrelada ao esgotamento dos estoques, uma vez que os próprios postos temem com a falta dos combustíveis.

Combustíveis sim, no plural, porque com a paralisação, nem diesel, gasolina e etanol estão chegando aos estabelecimentos. Com a falta, daí vem o encarecimento e o medo de esgotarem os estoques. Na rede de postos Rodotruck, por exemplo, conforme apurado pela reportagem, o funcionamento do local ontem já estava precário, com estabelecimentos em operação com apenas uma bomba e a ameaça de que a falta dos combustíveis ocorressem a partir de hoje.

Mas enquanto isso não ocorre, os preços continuam lá em cima, já sinalizando a suposta falta de lucro futura, caso a greve continue e não tenha com o que abastecer. Como pode ser visto na tabela, o preço do diesel pode ter uma diferença de até R$ 0,40, de um estabelecimento para outro, ou seja, entre R$ 3,699 e R$ 4,099. Na ponta do lápis, se comparado com os valores pesquisados pela própria ANP (Agência Nacional do Petróleo), no dia 16 de maio, há uma semana, o aumento médio do combustível chegou a R$ 0,24, com ênfase ontem.

E se para uns, a paralisação é vista como um tiro que saiu pela culatra, com a greve pelos aumentos que gerou mais aumentos regionais, quem sente no bolso, apesar de tudo, é a favor do manifesto. O empresário Jonas do Carmo, 26 anos, por exemplo, sente com o aumento dos preços, pois depende do veículo para trabalhar, no entanto, ele acredita que as mudanças só podem acontecer dessa forma, “com protesto pacífico”, mas que se torna importante com os resultados que virão pela frente.

Por sua vez, o engenheiro ambiental Ailton Júnior, 30 anos, só consegue pensar no prejuízo financeiro que isso causa. Ele, que faz viagens diárias para cidades no Paraná, onde tem família, sabe bem como é necessário dispor de dinheiro para abastecer. Com as altas que ocorreram por causa da greve, ele teme também com a falta de combustível, mas principalmente com os valores absurdos que isso pode acarretar. “Mas até que haja uma resolução, o negócio é economizar o máximo possível, optando pelo etanol, enquanto ainda tem”, completa.

Ambos os entrevistados não deixam de salientar que o que não pode deixar de ser dito são os problemas reais que originaram tudo isso: a crise política.

Categoria

As preocupações podem ser diferentes, mas o apoio à greve é eminente. Exceto para o Sindicato das Empresas de Transportes e Logística de Prudente e Região, que ainda não possui uma opinião formada. O presidente garante à reportagem que uma reunião com toda a categoria está prevista para hoje, a fim de discutir todo o cenário atual. Mas de prontidão, ele reconhece os reflexos negativos que a atitude resulta, principalmente no que tange o preço do combustível, síntese central de todo motim.

“O medo de que acabe os combustíveis existe e pode acabar se continuar dessa maneira”, argumenta Antônio Carlos, contudo, por também ser empresário, destaca outros impactos, como menos faturamento, uma vez que o transporte de caminhões está à frente do carregamento de muitos produtos. “Tirar R$ 0,05 do Cide [Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico] não vai adiantar em nada”, finaliza o presidente, ao lembrar-se do anúncio do governo, que pretende zerar o imposto mencionado.

Porta de saída

No país, há também relatos de paralisações em frente às distribuidoras, impedindo que o combustível passe da porta de saída e chegue até os postos. Pela região, não há confirmação de tais situações, mas não foi preciso para que o setor industrial também sentisse. O diretor regional do Ciesp (Centro da Indústrias do Estado de são Paulo), Wadir Olivetti, conta que já existem empresas que estão com mercadorias prontas para embarcar, no entanto, isso não é possível, pela falta de caminhões.

E isso vai além de usinas e distribuidoras, mas englobando todo o setor produtivo. Produção essa que está afetada, “com toda certeza”, completa o diretor, sem informações de até quando a greve pode ocorrer. “A paralisação está causando mais problemas do que existia. É necessário que haja redução de impostos e valores de produtos, mas não podemos deixar de falar que tais atitudes interferem no desenvolvimento de todas as produções”, finaliza.