Sanidade em tempo de Covid-19

Aprendemos com as experiências emocionais. Não há outra forma de aprender. Mesmo que tenham, tal como um terremoto, desmoronando tudo, não sobrando pedra sobre pedra. Difícil elaborar os escombros, principalmente se a resultante envolver uma realidade marcada por ausências, perdas, separações e até morte. Essa experiência que estamos vivendo atualmente do coronavírus no ano de 2020 será contada para outra geração.  Por mais fidedigna que seja, em sua narrativa, desconhecerão toda a intensidade do que nós estamos aprendendo com a experiência emocional.

Na aula de história, professores tentarão descrever, assim como descrevem hoje o Holocausto, mas suas narrativas certamente não corresponderão com certas evidências como estamos vivendo hoje, com insegurança, medo, incertezas e dúvidas. E com razão, pois o desequilíbrio paira no ar.

Líderes políticos estão contagiando o ambiente num clima de ódio. Os interesses políticos disseminaram o vírus do poder - além da Covid-19. Onipotência entre os governantes leva ao clima, ainda pior de desequilíbrio. Esqueceram que “a união faz a força”. E o que vemos são fragmentações, cisões, perturbações, ódio, briga pelo poder, e ainda corrupção. Bom senso, consenso, cumplicidade, segurança, convicções desapareceram. O que temos é um clima de terror.

Nesse momento, a base, referências e identidade deverão ser encontradas em nós mesmos. Agora é o momento de apegar em crenças pelas quais basearam até agora, suas vidas. Desequilíbrios emocionais, como angústia, intolerância e frustração poderão afetar o sistema imunológico. E aí que mora o perigo. Observamos mudanças de hábitos no cotidiano das pessoas, nessa crise do isolamento social. Suportamos precariamente mudanças bruscas. Demoramos em elaborar “lutos” sobre costumes, rotinas de outrora. A busca pelo preenchimento de vazios, lacunas, buracos deixados pela crise, torna-se uma realidade.

Há um aumento desenfreado pela busca por medicações, como ansiolítico, antidepressivo, antipsicóticos e para insônia. Também pelas bebidas alcoólicas, onde entraram num ranking, jamais visto. Compulsão alimentar e compulsão pelas compras pela internet. Violência doméstica, elevação de substâncias psicoativas se encaixam no contexto da quarentena. Vícios em jogos também dispararam pela sua disponibilidade on-line. Realmente estamos todos experienciando uma situação desastrosa.

Não há mal que tanto dure e bem que tanto perdure. Não há outra solução que não seja paciência e cuidados para preservar a vida. É preciso saber esperar. E simbolizar as faltas, mas não as substituindo por “próteses”, assim como as drogas, medicações, álcool, jogos, compulsões. Há hábitos adquiridos diante dessa crise, que poderão tornar-se um vício. Cuidado! Busque sempre pela expressão de uma boa conversa com pessoas que possam proporcionar um afago, alento, carinho e atenção. Pode evitar desastres.

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