“A arte de amar”

OPINIÃO - Nagib Anderáos Neto

Data 01/11/2022
Horário 05:00

“The Art of Loving”, o título original americano. No Brasil, publicado em 1960, fez grande sucesso entre jovens leitores, e Erich Fromm tornou-se autor consagrado. Quem não leu, ouviu falar. Os jovens se revoltaram contra o autoritarismo, as superstições e as guerras. Certas leituras eram obrigatórias: Simone, Hesse, Amado, Bertrand Russel. Os pais autoritários e o governo militar eram os alvos preferidos daquela rebeldia. O “Por que não sou Cristão” de Russel andava de mãos em mãos.
A ordem era ampliar a área da consciência, diziam os intelectuais de plantão, sem que tivessem uma ideia clara do que fosse a consciência. Soava bem. Da mesma forma que a inadmissibilidade do amor sem conhecimento.
Sendo o amor uma arte, exigiria esforço e conhecimento. E o domínio dela nada teria a ver com sucesso, poder, dinheiro. Sem ele, a humanidade não existiria. Implicaria cuidado, responsabilidade, trabalho, respeito, dedicação e liberdade.
O egoísta, por outro lado, veria apenas a si, endurecendo o coração. O amor próprio e o egoísmo levariam à solidão. Ao ajudar o outro, deixaria de estar só; e teria muito a ver com o amor a Deus, despertado pelo amor ao homem, à humanidade.
Sem amor, a humanidade não existiria. Nele ocorre o paradoxo de que duas pessoas sejam uma, embora permanecendo duas.
O homem moderno se tem distanciado dele por só pensar em produzir e consumir. A eficiência da economia é medida por estes parâmetros. E desta forma, afastando-se do amor, ele passa a ser parte de um grande rebanho sem individualidade; obedece, trabalha, consome numa vida rotineira e mecanizada. Não muda, não se supera, tudo é trabalho, consumo e diversão.
A cultura contemporânea afastou o homem do amor por estar baseada numa falsa liberdade política e na equivocada ideia de que o mercado tudo regula.
Dirigentes são impostos por partidos, agrupamentos, associações e sindicatos, que são dirigidos por pessoas que vêem o próprio interesse acima do comum. O mercado é regido por grandes empresas internacionais associadas a governos, impondo produtos, preços e padrão de consumo. A grande mídia nas mãos de empresas autorizadas por governos, os quais direcionam as pessoas para consumir sem necessidade: coisas, informações inúteis, imagens de violência e desgraça; seres previsíveis e influenciáveis, distantes cada vez mais dos semelhantes e da natureza.
Em “A arte de amar”, o autor afirma que Freud escreveu muita bobagem, como, por exemplo, que o amor é um fenômeno irracional; enamorar-se seria tornar-se anormal, cegar-se. Mentes confusas como as de Freud e Marx apontando para uma felicidade utópica apoiada no sexo, riqueza, ceticismo e acaso.
O livro trata da teoria e prática do amor, e de tudo o que o exclui. Diz que a prática não pode ser ensinada, já que, como gérmen, ele existe no coração de todo o ser humano. Exige certa disciplina de vida, nada tendo a ver com a rotina diária de um trabalho aborrecido e repetitivo. E também concentração e paciência. Diz o autor que “o homem moderno pensa perder alguma coisa – o tempo – quando não faz as coisas rapidamente; todavia, ele não sabe o que fazer com o tempo ganho – a não ser matá-lo”. E se deve ser “ativo em pensamento, sentimento, olhos e ouvidos, o dia inteiro; concluindo que “o amor é a última e real necessidade do ser humano”.
 

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