“A Escavação”

“A Escavação”, filme lançado pela Netflix no último dia 29, conta a história real de uma mulher que topou com achados arqueológicos importantes em sua propriedade, logo no início da segunda guerra. Em 1939, a viúva Edith Pretty contratou o arqueólogo Basil Brown para investigar o terreno de sua propriedade em uma empreitada que resultaria na descoberta de um dos tesouros mais importantes do Reino Unido. Anos mais tarde, os artefatos anglo-saxões encontrados seriam levados ao British Museum e expostos sem nenhuma menção a Brown. 
O livro, no qual “A Escavação” é baseado, escrito por John Preston e publicado em 2007, focaliza sobre este nome pouco reconhecido. No filme de Simon Stone, existe uma relação criada em silêncio entre Pretty, interpretada por Carey Mulligan, e Brown, papel de Raph Fiennes. Até metade do filme, a aproximação dos dois segue os passos de um clássico, isto é, de modo profundamente discreto. Uma troca de olhares, um cuidado especial nas roupas e uma atmosfera levemente tensa é tudo que é necessário para desenvolver um clima romântico entre os dois personagens ingleses.
Tudo isso funciona bem até que “A Escavação” muda de ideia totalmente e, quando mais pesquisadores se interessam pela descoberta arqueológica, o filme se torna um estudo sobre os legados humanos e a fugacidade da vida. 
“A Escavação” chama atenção porque, arqueologia tem forte relação com a psicanálise. Escavamos o inconsciente, que tem fortes ligações com vivências atuais no dia a dia. Temos influências e legados de antepassados, herança filogenética e ontogenética. Muitas vezes, sensações, dejavu, atuações e ações nos deixam reflexivos dentro de súbitas tomadas de decisões. O desconhecimento próprio desencadeia angústia.
Edith havia herdado da família instintos e impulsos em que ela própria, muitas vezes, desconhecia em si. Realmente encontramos estranhos aspectos em nosso universo psíquico. Há um casal no filme, Peggy Preston (Lily James), casada com Stuart Piggott, e acabaram se divorciando. O filme retrata a forte resistência aos instintos e impulsos em que, muitas vezes, desgoverna o ser humano. Ele casa com a mulher, sentindo fortes atrações por homens.
O filme retrata a rejeição dele, quando a esposa insinua-se pedindo sexo. E a forte atração pela presença de um arqueólogo que o atrai é notória e há evidência de forte descontrole instintivo. O autoconhecimento é fundamental quando nos perdemos em camadas amalgamadas e desconhecidas do inconsciente (id). Há muitos casais em conflitos, vivendo de forma superficial e seu verdadeiro eu soterrado. E há casais acomodados e é confortável fingir que são perfeitos. No caso do filme, a esposa reage. O filme é interessante. Vale a pena assisti-lo.
 

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