A importância dos cuidados periodontais na prevenção e controle do diabetes 

OPINIÃO - Manuela Netto

Data 14/11/2023
Horário 04:30

A IDF (Federação Internacional de Diabetes), junto à OMS (Organização Mundial de Saúde), instituiu em 1991 o Dia Mundial da Diabetes, em 14 de novembro, a fim de conscientizar a todos sobre a doença. O diabetes, uma doença crônica metabólica que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, é conhecido por sua influência abrangente sobre a saúde. O aumento da concentração de glicose no sangue, característico dessa condição, desencadeia uma série de complicações sistêmicas, incluindo problemas renais, oculares e vasculares, bem como condições bucais que frequentemente são subestimadas.
A principal doença bucal associada ao diabetes é a periodontite, condição caracterizada pela destruição dos tecidos de suporte e proteção dos dentes. Além disso, os pacientes diabéticos também são mais propensos a sofrerem de hipossalivação, xerostomia (sensação de boca seca), síndrome de ardência bucal, candidíase, ulcerações na mucosa bucal, dificuldade de cicatrização e hálito cetônico. A relação entre diabetes e periodontite é bidirecional, o que significa que cada uma dessas condições pode aumentar o risco e a progressão da outra.
Estudos têm demonstrado essa conexão. Em 1993, um estudo realizado por Löe indicou a periodontite como a sexta maior complicação do diabetes. Além disso, uma revisão sistemática e meta-análise que avaliou cerca de 50 mil pacientes em 13 estudos mostrou que o diabetes aumentou o risco de desenvolver ou progredir a periodontite em impressionantes 86%, em comparação com pacientes saudáveis ou com diabetes bem controlada. Isso significa que os pacientes diabéticos têm de 1,5 a 3 vezes mais chances de apresentar periodontite, e que essa condição pode ser ainda mais grave quando o controle glicêmico é inadequado.
Um estudo realizado nos Estados Unidos também revelou que um em cada cinco casos de edentulismo (ausência total de dentes na boca) é atribuído à periodontite. No entanto, o ponto crucial é que os pacientes com diabetes bem controlado apresentam um risco periodontal semelhante ao de pacientes sem diabetes. Isso ressalta a importância vital do controle glicêmico na saúde bucal. 
É importante notar que o diabetes não está limitado a uma faixa etária específica. A periodontite, por sua vez, torna-se mais comum após os 40 anos de idade. Portanto, a maioria dos pacientes afetados por essa interação entre diabetes e saúde bucal são adultos com mais de 40 anos.
Os dentistas desempenham um papel crucial na identificação precoce do diabetes, pois podem detectar sinais e sintomas da doença, como hálito cetônico, sede excessiva, aumento da frequência urinária, fome excessiva e perda de peso inexplicada. Portanto, a consulta odontológica pode ser o primeiro passo para o diagnóstico do diabetes.
A recomendação odontológica mais importante para pacientes com diabetes é buscar acompanhamento regular com um periodontista, conforme indicado nas Diretrizes da Sociedade Brasileira do Diabetes de 2019/2020. 
Além disso, recomenda-se que pacientes diabéticos realizem profilaxias de revisão a cada três ou quatro meses, no máximo, devido ao risco aumentado para periodontite. 
Por fim, é fundamental que os dentistas avaliem cuidadosamente os níveis de glicose de seus pacientes, evitando procedimentos invasivos ou que envolvam sangramento em casos de glicemia abaixo de 70mg/dL ou acima de 300mg/.
Em resumo, a relação entre cuidados periodontais e diabetes é profunda e bidirecional. O controle glicêmico e a manutenção da saúde bucal desempenham um papel crucial na prevenção e no gerenciamento eficaz dessa doença crônica. Os pacientes diabéticos devem estar cientes de seu risco aumentado para periodontite e outras condições bucais, buscando cuidados odontológicos regulares e seguindo as recomendações de acompanhamento profissional.
 

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