“A pandemia foi um momento de visibilidade para os contadores de história

Ana Paula Carneiro, contadora de histórias

VARIEDADES - OSLAINE SILVA

Data 19/05/2021
Horário 08:00
Foto: Cedida
Contadora de histórias, uma profissão milenar que existe em praticamente todas as culturas e povos do mundo
Contadora de histórias, uma profissão milenar que existe em praticamente todas as culturas e povos do mundo

A Cia. Apocalíptica fez uma live no perfil do Instagram (@cia.apocaliptica), em abril, para anunciar os selecionados que participarão do FrESTA – Jornada Literária Apocalíptica, que será realizado no formato online, entre hoje e domingo. O festival recebeu mais de 170 inscrições de grupos, coletivos, artistas e contadores de histórias de todo o país. Uma honra para Presidente Prudente, que teve a professora pública, Ana Paula Carneiro, como uma das classificadas, entre os 46 projetos de 12 cidades do Brasil, com “A importância do ler e contar histórias”. 

Qual a importância de ter seu projeto dentre os classificados?
É uma oportunidade única estar representando a cidade de Presidente Prudente nesta Jornada Literária que é o FrESTA, em que pessoas e grupos do Brasil inteiro estarão participando. Ter meu projeto selecionado pela curadora artística Kiara Terra, ela que é uma referência para os contadores de histórias no país, é incrível. Esse é um reconhecimento do trabalho que venho desenvolvendo há 15 anos como professora, mediadora de leitura, formadora de professores e leitores, entre os quais tenho me dedicado às contações de histórias nos últimos anos.

Apresente-nos um pouquinho de “A importância do ler e contar histórias”...
Para esse evento, me inscrevi para uma atividade formativa em formato de bate-papo, para falar um pouco sobre a importância de ler e contar histórias. Vou falar um pouco sobre a diferença dessas duas práticas e como cada uma contribui na formação das pessoas e de leitores. A contação de histórias é uma coisa que faz parte da vida da gente. Enquanto seres sociais estamos a todo o momento contando algo para alguém. Nossa cultura é oralmente popular, onde passa pelo contar o que sabemos de memória e o acesso a boas histórias para contar a partir de bons textos literários.  

Existe um público-alvo para este projeto?
Não. Esse bate-papo é aberto ao público em geral: pais, professores, atores, contadores de histórias, estudantes de Pedagogia e de outras áreas, pessoas que se interessam pela arte de contar histórias e da leitura, para conversarmos um pouco sobre as contribuições que essas duas práticas distintas apresentam na formação do ser humano, e a maneira como elas aproximam as pessoas da essência da humanidade. 

Qual a importância de seu projeto para a sociedade, especialmente neste momento?
Por conta da pandemia da Covid-19, a contação de histórias e as mediações de leitura que eu realizava em sala de aula e em espaços públicos como o Sesc por exemplo, passaram a apresentações em formato de vídeos e lives. Pensei em garantir que as crianças continuassem tendo acesso aos livros, por meio das histórias contadas nos vídeos. O nosso criar ao ler uma história, inventar, reinventar, ganhou uma amplitude ainda maior com as lives.

Ana, por que é importante a leitura ser reforçada na infância?
A infância é o período de formação da personalidade, de construção de vínculos. Os pais ao contarem histórias para seus filhos criam laços que serão eternos. Por exemplo, quando os pais, ou outro adulto, contam histórias para as crianças na hora de irem dormir, elas sabem que naquele momento serão acolhidas e por mais que sintam medo de um personagem, tem ali o adulto para protegê-las. As histórias durante a infância auxiliam a criança a vencer seus medos, enfrentar obstáculos e mostram que a vida exige dos personagens diferentes maneiras para resolverem seus conflitos. Se as crianças não aprendem a vivenciar seus medos, conflitos e superar finais que elas nem sempre concordam, estaremos criando adultos cheios de frustrações. 

Acredita que com a pandemia as pessoas tenham entendido melhor quão importantes são os professores?
Eu acho que a questão maior aqui seria a importância da contação de histórias. Hoje enquanto professora muitos pais agradecem, me mandam vários relatos do quanto o trabalho de leitura e contação de histórias foi importante para a superação e melhora da saúde mental das crianças e das famílias. Durante o período em que as histórias eram ao vivo, muitas famílias dos alunos da escola em que trabalho, Escola Municipal Coronel José Soares Marcondes, se reuniam para esperar o horário da história e quando acontecia algum imprevisto e não aconteciam as lives, eles enviavam mensagens falando sobre a falta da história naquele dia. A pandemia foi um momento de visibilidade para os contadores de história e da valorização do livro e dessa profissão que é milenar e existe em praticamente todas as culturas e povos do mundo.

Você é casada com um artista, certo? Tem filhos? Eles estão caminhando na magia da arte assim como os pais? 
Sou casada com o Tiago Munhoz, pais da Giulia, de 15 anos, e do Giovane de 8 anos. Durante a quarentena, aproveitamos para agregar os saberes de cada um nas lives de contação de histórias.
A Giulia na época fazia aulas de percussão pelo Projeto Guri e teclado no Conservatório Municipal, ela ficava com a base musical das histórias junto com meu esposo, que toca alguns instrumentos e também é palhaço. A figura do palhaço também entrou nas contações, cada um foi colocando sua personalidade nas histórias. Meu filho Giovane também faz aulas de música pelo Projeto Guri e é o palhaço Buscapé. Desde bebê ele gosta muito das histórias! Temos uma pequena biblioteca em casa e eles sempre tiveram muito incentivo à leitura. Hoje ele já lê autonomamente, mas ainda me pede para ler as histórias antes de dormir. 
E achamos que os filhos não seguem muito as coisas que os pais falam ou fazem, por um tempo a Giulia parou de ler, acredito que tenha sido por conta das leituras obrigatórias da escola, mas nos últimos anos ela tem lido muito e criou até um IG no Instagram de indicações literárias, e olha que ela só me contou depois de ter criado o perfil @um.livro.please? E a mãe leitora, professora, pesquisadora, contadora de histórias se enche de orgulho!

Quem é a Ana Paula profissional?
Tenho graduação em Pedagogia pela Unesp (Universidade Estadual Paulista) “Júlio de Mesquita Filho” (2006), sou mestre em Educação pela mesma instituição. Integrante do CELLIJ (Centro de Estudos em Leitura e Literatura Infantil e Juvenil de Presidente Prudente). Membro do grupo de pesquisa Formação de Professores e as Práticas Educativas em Leitura, Literatura e Avaliação do texto literário. Professora dos anos iniciais do ensino fundamental, atuei como vice-diretora em uma das escolas da Seduc (Secretaria Municipal de Educação). Contadora de história apresentando em escolas, eventos, formações de professores, cursos e unidades do Sesc. Ministro oficinas de leitura e contação de história. Participei da escrita do capítulo do livro: “Para compreender textos: o ensino de estratégias de leitura e práticas de leitura literária na primeira infância”. Tenho experiência na área de Educação, atuando principalmente com: leitura, literatura infantil, formação do leitor literário e mediação de leitura.

SERVIÇO
Acompanhe o trabalho da professora, mestre em Educação e contadora de histórias, Ana Paula Carneiro, pelas redes sociais: @historias_da_nana  e https://www.youtube.com/channel/UCvbQz3IvBehDQfPxE13huLw.


 

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