Os historiadores franceses da Escola dos Annales nos ensinaram que devemos estudar a História não para compreender o passado, mas para que este possa nos ajudar a entender e compreender o presente. Para tanto, os historiadores presente devem colocar problemas ao passado, problemas que possam ajudar a iluminar por quais razões o presente assim se configura.
Nesse dia em que comemoramos os 107 anos de Presidente Prudente, o problema que gostaria de discutir com você, nobre leitor, é justamente por quais motivos Presidente Prudente tornou-se a capital do oeste paulista, em detrimento de outros municípios da região? A pertinência da questão mostra sua relevância quando apontamos que praticamente todas as cidades de nossa região, fundadas ao longo da Estrada de Ferro Sorocabana, o foram praticamente ao mesmo tempo, entre as décadas de 1910 e 1920.
Prudente, em especial, foi fundada em 1917, seguida de Santo Anastácio, cuja colonização iniciou-se no mesmo ano, mas que conquistou sua emancipação política um pouco mais tarde, em 1926. Essa última cidade nos ajuda a compor nosso problema histórico, haja vista que a mesma fora planejada para ocupar o lugar de Presidente Prudente, sendo o traçado largo de suas ruas e avenidas, como de uma futura metrópole, um dos mais fortes indícios dessa pretensão. Afinal, porque Prudente venceu?
Dióres Santos Abreu, historiador e professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista), falecido em 2020, analisou com maestria esse problema. Para o historiador, a colonização de Presidente Prudente diferiu dos demais municípios da região na medida em que fora realizada a partir da fundação de dois núcleos urbanos de colonização, que conferiram um dinamismo e uma força econômica sem paralelo nos demais núcleos de colonização que pululavam ao longo da sorocabana naquele período, que foram fundados a partir de uma única vila.
Com efeito, a Vila Goulart e a Vila Marcondes, fundada pelos coronéis homônimos, deram um impulso competitivo que fizeram toda a diferença para esse processo histórico. A Vila Goulart, por exemplo, iniciativa colonizadora de Francisco de Paula Goulart, fora planejada e seu traçado urbano já estava pronto em 1917, atraindo migrantes e imigrantes em busca de terras e prosperidade. A Vila Marcondes, por sua vez, fundada pela Cia Marcondes de Colonização, trouxe ainda maior dinamismo ao empreendimento colonizador, pois Marcondes integrava uma empresa capitalista que investiu em propaganda e atraiu imigrantes de várias partes do mundo a Prudente.
A competição entre as vilas e a folclórica disputa entre os coronéis conferiu maior atratividade a Prudente, e quando ocorreu a fusão das vilas, o município nasceu grande e em vantagem demográfica e econômica diante dos demais núcleos urbanos da região. A escolha da cidade como capital do oeste paulista pelo governo do Estado acabou sendo natural diante desses fatores.
O passado explica o presente, de modo que se hoje Prudente ocupa o lugar de capital regional, isso ocorre devido a esse peculiar processo colonizador. Oxalá que o futuro prudentino seja tão glorioso quanto seu passado. Parabéns Prudente!