O Parque do Povo, neste exato instante, não é apenas um parque. É uma sinfonia. A batida suave do vento nas folhas das árvores e o ritmo constante das patas da Amora na grama se harmonizam com o inconfundível órgão Hammond de “A Whiter Shade of Pale”, que ecoa suavemente pelos meus fones de ouvido.
A música do Procol Harum, que já nasceu clássica, é a trilha sonora perfeita para este momento de tranquilidade urbana. Enquanto Gary Brooker canta seus versos enigmáticos, a gente caminha. Eu, perdido nas lembranças que a canção evoca; Amora, com a alegria inocente de quem vive no presente, explorando cada cheiro, cada canto do parque.
Cada acorde, cada nota do órgão de Matthew Fisher parece pintar uma paisagem em minha mente. A técnica, o estilo do baterista, B.J.Wilson, faz voltar o grande sonho que sonhei que era ser um baterista. A vida me levou para outros caminhos. Vida que segue. O nosso Parque do Povo, com sua natureza que encanta, as pessoas caminhando, numa paisagem de sensações e pensamentos que se perdem no tempo. É como se a música me levasse para um lugar onírico, onde as cores são mais suaves, as sombras mais longas e o tempo se estendem em um ritmo melancólico e belo.
É nesse devaneio que percebo a beleza do contraste: a grandiosidade de uma música que sobreviveu ao tempo, tocando para uma plateia de um homem, uma cachorra e a paisagem simples e cotidiana de um parque. A música se torna um portal, uma ponte entre o passado e o presente, entre a memória e a realidade. A melancolia elegante da canção se encontra com a alegria simples da Amora, e o resultado é uma harmonia perfeita.
Ao final da música, com o som do órgão e a voz de Brooker e a batida do batera, B.J. Wilson vai ressoando em minha mente, eu me vejo de volta aos anos dourados da minha juventude. A realidade, que por alguns minutos se dissolveu na melodia, volta a tomar forma. Mas algo mudou. A caminhada não é mais a mesma. Agora, ela carrega consigo um toque de magia, um pedaço da melancolia bela de “A Whiter Shade of Pale”.
A música continuará atemporal, o tempo tentando matar as ilusões, mas a sensação permanece. E é com essa sensação que continuamos nossa jornada, eu e Amora, prontos para a próxima música, a próxima aventura.
"We skipped the light fandango
Turned some cartwheels across the floor
I was feeling kind of seasick
When the crowd called out for more
The room was humming harder
And the ceiling flew away"...