As teias nossas de cada dia

Há acidentes emocionais, impactantes que nos levam a inibições, fixações ou estagnações. E então, resistimos em expandir ou transformar. Como as aranhas tecem suas teias, próprio da espécie, metaforicamente, tecemos também as nossas. E assim, as emoções tornam-se aprisionadas por grande parte ou até, por toda uma vida. 
Passamos então, a ficar desvitalizados e com incapacidade para sonhar. As teias são como labirintos, fáceis para entrar, difíceis de sair. O amor é algo da ordem do afeto e pode ser fértil e transformador. O ódio precisa ser encarado como algo que faz parte nas relações interpessoais. Precisamos nomear nossas emoções ou sentimentos. Amamos e odiamos a mesma pessoa. Admitir é difícil. Administrar essa dualidade facilita e muito, além de tornar o superego menos cruel. Exigimos demais, de nós mesmos. 
O autoconhecimento propicia expansões emocionais. É muito importante refletir até sobre nosso próprio nome. De onde vem, o seu nome? Quem escolheu? Você aprecia? Quem é você? Qual é a sua identidade, essência e conteúdo? Você liquidifica na presença do outro? Confunde-se? Na ausência do outro, dissolve-se? Fica sem rumo? 
Sabemos que traumas em fases muito primitivas (bebê) desencadeiam regressões e fixações comprometendo a constituição do psiquismo. O bebê, em dependência absoluta, necessita de cuidados maternos, até chegar à dependência relativa. Como diz Exupéry, autor do livro “O Pequeno Príncipe”, cativar é criar laços. “Tu te tornas eternamente responsável, por aquilo que cativas”. Há milhares de rosas no mundo, mas aquela que você cativou se torna única. Foi o tempo de dedicação, afeto, respeito e amor que a fez diferente. O laço foi criado. 
Violência doméstica, agressões físicas, abusos sexuais, violência moral ou desamparo da ordem do terror, tornam o desenvolvimento tal como, a semente, incapaz de germinar. E assim, impossibilidade e incapacidade em direção à apropriação de sua verdadeira identidade ou verdadeiro self. A confusão instala-se,em direção à fusões e não haverá diferenciação entre eu e não-eu. Patologias do vazio, transtorno de atenção e hiperatividade, déficit de atenção e concentração e características austísticas serão realidades vivenciadas, levando a dificuldade de aprendizagem.
Há teias boas e férteis. Há teias em que nos sabotamos. É confortável viver em emaranhados. Há ganhos secundários. E assim, não queremos sair delas. Apropriar do que é nossa real identidade, autoconhecimento são formas de aproximação de um possível equilíbrio. Somos humanos e então, lapidamos a pedra bruta durante toda uma vida. “Estou com saudade de mim. Ando pouco recolhida, atendendo demais ao telefone, escrevo depressa, vivo depressa. Onde está eu? Preciso fazer um retiro espiritual e encontrar-me enfim -enfim, mas que medo - de mim mesma”. (Clarice Lispector - É preciso parar)
 

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