Kleber Mendonça Filho e Juliano Dorneles dirigiram o filme que passeia entre vários gêneros cinematográficos e, com o intuito de criticar o sistema. Após sua estreia, a obra ganhou proporções nacionais e internacionais e, os diretores, que começaram com curtas-metragens, trouxeram a rica cultura do povo nordestino para o mundo, dando ainda mais visibilidade a obras como “Aquarius”.
É gente! Desde o início, vemos uma população do interior do Nordeste, que como milhares de pessoas, tem pouco acesso à saúde e educação. A trama começa com uma morte, que traz Teresa de volta ao vilarejo. A mulher nasceu e cresceu no sertão, mas foi estudar fora e retornou ao lugar de origem. Ela acaba sendo uma exceção à regra, que não é comum na narrativa do povo nordestino.
Logo no começo, os moradores da cidadezinha descobrem que o lugar não consta mais nos mapas e, aos poucos, percebem a ocorrência de eventos estranhos na região: estrangeiros, drones, tiroteios e cadáveres começam a aparecer. Eles descobrem que estão sendo atacados, se unem para identificar o inimigo e criar, todos juntos, uma forma de defesa.
Quando assistir, você pode achar o roteiro estranho e até raso, mas o que não percebemos, são os novos caminhos apontados, que “quebram” as expectativas e dão novos significados ao que já foi visto antes. O telespectador se sente no escuro e, gradativamente, se vê chocado com as surpresas da trama.
Não existe um protagonista, pois a cidade inteira se encaixa nesta categoria e, cada um tem uma função muito especifica dentro daquela situação sociopolítica. Além disso, a fotografia não é exatamente o que se vê com frequência nos festivais, pois as imagens são saturadas, sobrepostas e a montagem tem uma transição de cenas incomum, mas toda essa junção transforma a película em algo único.
A segunda metade sofre uma metamorfose completa, onde há inúmeras referências aos filmes americanos. Os novos personagens, o ritmo das cenas, relação com humor, planos maquiavélicos e soluções inesperadas entram no estilo “Trash” que tanto conhecemos.
Na terceira parte da história, tudo vira de cabeça para baixo novamente, onde se une com as duas esferas propostas anteriormente e as pontas soltas são resolvidas. Por isso, vale à pena acompanhar todo o trajeto da história que se torna metafórica e evidente quanto à situação do cenário brasileiro: uma revolta depois da opressão, com uma revolução da classe trabalhadora. O filme está disponível no Telecine Play.