Capitólios e sofrimentos

OPINIÃO - Saulo Marcos de Almeida

Data 11/01/2022
Horário 05:00

Lancha destruída na cidade de Capitólio denominava-se Jesus
Notícia local

Ao ler há tempo “O Mal-estar na Civilização” (1930), obra de Sigmund Freud (1856-1939), lembro-me que o mais famoso psicanalista do mundo elencou três fontes do sofrimento humano que impedem, sobretudo, a plena felicidade no mundo moderno e industrializado.
A primeira origem de nosso mal estar civilizatório é orgânica e dirigida aos limites do corpo. O fato é concretamente biológico e às vezes desesperador, contudo, natural e inevitável ao longo do tempo e da história. Envelhecer é próprio de todo o ser vivo e a morte, maior certeza humana.
A força dos fenômenos naturais inesperados e ocasionalmente destruidores tem sido também a razão de intensa dor e desequilíbrio à vida, dizia o pai da psicanálise.
Nem um pouco desconhecido, ainda apontou como causa do sofrimento moderno, os relacionamentos com o próximo ao longo da existência. “O outro é o meu inferno”, evidenciava o existencialista Sartre corroborando a tese freudiana.
Capitólio não é termo usual e comum a tomar conta da linguagem humana de maneira atroz. Contudo, etimologicamente, sabe-se que sua raiz principal é caput, de onde vêm as palavras: cabeça, topo, capelo ou mesmo principal enunciado de um artigo de lei. 
Historicamente falando, Capitólio (Capitolium), “palavra oriunda também do latim”, remete ao templo romano dedicado a Júpiter na parte mais alta de uma das sete colinas da antiga Roma, capital (caput) do mais famoso império ocidental. 
Curiosamente, há apenas um ano (6 de janeiro de 2021) assisti, entre incredulidade e apreensão, à invasão do maior símbolo de glória (triunfo, fastígio) da mais rica nação da atualidade: o Capitólio dos Estados Unidos. Homens e mulheres, inconformados e insanos com os resultados das eleições presidenciais, resolveram tomar por meio da violência o prédio que, além de representar o centro legislativo estadunidense (Câmara de Deputados e Senado), aponta para o centro de poder do país mais democrático do mundo. Aquela dor e sofrimento podiam ser evitados!
Agora, no último sábado (8 de janeiro de 2022), infelizmente, foi a vez da nossa Capitólio. Cidade mineira, de vida simples e que compõe, sem empoderamento nenhum, os 853 municípios do Estado de Minas Gerais. 
Era apenas um dia de lazer, entretenimento e alegria fugaz...
Em meio à beleza da região e das águas verdes e lindas da lagoa de Furnas, aconteceu o tombamento inesperado, sem licença e qualquer dolo, de um bloco de rocha de toneladas inimagináveis que, infelizmente, atingiu alguns barcos de turistas dando fim à existência de alguns homens e mulheres que ali só desejavam brincar numa manhã ensolarada de descanso (sábado). Essa dor e sofrimento não se pôde evitar!
Experiências trágicas e inesperadas marcam a vida humana e aparentemente retiram de nós a esperança. Contudo, fazem-nos lembrar que, embora protegidos por Deus, basta estar no palco da história para ser acometido de alguma tragédia ou sofrimento. 
Episódios de dor e, aparentemente sem esperança, fazem parte da epifania de Deus e servem para ensinar que nem tudo está pronto e acabado. Nem toda a história de vida tem um final feliz: para uns o sofrimento é pontual e para outros o sofrimento percorre toda a existência humana. 
Ainda que a história seja trágica, drama de vida e situações limites, aparentemente sem esperança, fazem parte dos mistérios de Deus e ensinam, paradoxalmente, que a nossa espiritualidade pode iniciar pela soberania e socorro divinos, pois estamos no mesmo barco, chamado Jesus. 
 

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