“Ei, você aí, me dá um dinheiro aí!”

Essa expressão “Ei, você aí, me dá um dinheiro aí!” é muito comum em nosso cotidiano. Somos constantemente abordados pelos drogadictos. Eles têm urgência em adquirir as drogas para o seu uso imediato e constante. Certa vez, um deles perguntou se eu usava também. Eu perguntei para ele: Por que você usa drogas? Ele respondeu que estava viciado e já não conseguia ficar sem. A falta tornou-se insuportável e “ela” tornou-se a “pessoa” mais importante para ele.  Pensava só “nela” e o dia inteiro ficava às voltas com pensamentos sobre como “consegui-la”. 
A sua família de origem deixou de ser importante. E foi adquirindo outra família na rua. Assim sendo, resolveu pedir dinheiro. Ele perguntou para mim: Como consegue ficar sem drogas? Respondi para ele: Eu consigo o mesmo efeito da droga, quando encontro muita dificuldade pela frente, que é muito comum e resolvo entender e pensar, como faço para solucioná-la. Penso que viver não é fácil, então começo a conjecturar sobre possíveis soluções. Luto muito, até encontrá-las. E quando encontro, permaneço por alguns instantes plena. Há certas conquistas que nos transportam em direção à felicidade. O mal-estar na civilização é uma repetição. Temos que nos preparar para possíveis surpresas desagradáveis, também dúvidas e incertezas. 
Ele pensou, após ouvir e disse: Eu não consigo lidar com as frustrações. Sentia muito mal, angustiado e doía demais quando era contrariado. Queria de forma instantânea, realizar todos os meus desejos. E fui permanentemente realizado. Eu via nos olhos da minha família, muito sofrimento ao ser repreendido por algum adulto que impunha ordem e limites. Eu preciso da droga para anestesiar-me. Vida para mim representa sentir o “baguio” (efeito) que seu uso oferece. E eu quero toda hora. Não entendo por que vocês todos não usam, não iriam mais sofrer.
Eu falei para ele que entendia que o sofrimento, bem como o seu enfrentamento e o possível encontro de soluções representa para mim, vida. Viver é passar o tempo enfrentando, experienciando e vivendo barreiras, turbulências, surpresas, conquistas e recompensas que a vida proporciona e todos os seus desdobramentos. Ela é uma só e tem prazo de validade. A cada evento, seja ele qual for, temos que aproveitar pois, tudo é passageiro. 
Viver a eternidade de certos momentos é essencial. Sinto o mesmo “baguio” que você, enfrentando a realidade e não fugindo. Ele respondeu que o momento em que faz uso da droga é eterno para ele. E por isso me pedia dinheiro, não pode ficar sem e é totalmente dependente dela. Finalizando, perguntei: Você então, não é livre? É refém da droga e dependente das pessoas que lhe dão dinheiro? Respondeu: Sim. Então, você vive para a droga e a droga vive em você, logo sua vida é uma droga? Sim. Acho que sim. Ao despedir-me, ele disse: Fique mais um pouco, gostei de conversar...
 
 

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