“Entrar na hemodiálise era inevitável! O choque foi grande até conseguir entender que a aceitação é o melhor caminho”

Isabel Rizo, paciente renal crônica, fala dos desafios de conviver com a doença, de voluntariado na Carim, e dá lição de amor à vida!

PRUDENTE - DA REDAÇÃO

Data 09/03/2023
Horário 04:10
Foto: Cedida
Isabel encara a hemodiálise às terças-feiras, quintas e sábados
Isabel encara a hemodiálise às terças-feiras, quintas e sábados

“Entrar na hemodiálise era inevitável! Mas o choque foi grande até conseguir entender que a aceitação é o melhor caminho”. Imagine com este calor não poder tomar água suficiente para matar a sede, por ter limitações de ingestão de líquidos, controlar os alimentos e a quantidade do que se come, porque não pode ganhar mais peso do que seu corpo aguenta, variação da pressão. Estes são alguns dos desafios que a paciente renal crônica, Isabel Marques Rizo, 57 anos, especialista em gestão de operadoras, que é voluntária da Carim (Associação de Apoio ao Paciente Renal Crônico e Transplantado) de Presidente Prudente, convive.
“Tem pessoa que é diabética e tem mal-estar durante as quatro horas que fica na máquina... sem contar o preconceito que, infelizmente, existe e quando muitas pessoas que têm condição de exercer uma atividade, ao dizer que são renais, não são contratadas. E o preconceito em relacionamento afetivo. A maioria das pessoas não quer ter um relacionamento com alguém que tem uma doença terminal”, expõe Isabel, que está na fila por um transplante há três anos e meio. “Não é fácil ter pessoa compatível. São muitas variáveis”, completa ela, que é consultora em controladoria e estratégia da Unimed Prudente; consultora em assessoria de gestão da Unimed Dracena; e ainda atende home-office a Unimed Itapetininga e Unimed Maranhão do Sul, em Imperatriz no Maranhão.
Isabel encara a hemodiálise às terças-feiras, quintas e sábados, no último turno, a partir das 16h até por volta das 20h30 (tem o tempo de ligar e desligar a máquina). “Tenho uma doença degenerativa renal por conta do uso do medicamento hidantal antes dos 7 anos de idade. Tive sofrimento fetal para nascer e depois, quando ficava nervosa, desmaiava. Aos 29 anos comecei a perder sangue pela urina. Tratei por nove anos de infecção renal, depois evoluiu para perda da função. Entrar na hemodiálise era inevitável! Mas o choque foi grande até conseguir entender que a aceitação é o melhor caminho”, acentua Isabel, que diz ter outras limitações, como sentir-se cansada com mais facilidade porque a máquina tira seus nutrientes. “Eu ainda tenho condições de me cuidar, mas fico triste com quem não tem”.

Amor à vida

Com tantas limitações, Isabel enfatiza que é preciso ser feliz apesar das circunstâncias. “Afinal, estou ‘morta’. Vivo porque existe uma máquina. Esta é uma realidade fática que todo renal não consegue muitas vezes aceitar. Mas, sem a máquina ele não vive, então, costumo dizer que estou no lucro [risos]. Consigo viver porque existe uma máquina”, agradece Isabel, revelando que nos papéis para pegar o remédio no alto custo está descrito “Paciente terminal”.
Por isso ela diz ser tão difícil as pessoas conseguirem esperar o transplante. Muitas se desesperam, não veem sentido em continuar lutando, aí exageram no consumo d’água, que é a parte mais difícil, ter sede e não poder tomar o tanto de água que gostaria.
“Eu sou muito feliz, apesar da minha situação. Consegui entender que, conforme disse Fernando Pessoa: ‘Tudo vale a pena quando a alma não é pequena’!!! Consigo andar, comer sozinha, trabalhar, conviver com quem amo, então, aprendi desde muito cedo a jogar o jogo do contente, do livro ‘Pollyana’: ‘em tudo de ruim que acontece procure algo bom’. Eu poderia estar numa cama dependendo de alguém ... seria muito pior, concorda?”, indaga Isabel.

Se voluntariar à Carim

Isabel conta que sua decisão de se voluntariar na Carim se deu através de seus amigos médicos que a cobravam de fazer sua parte nesta causa, porque a conheciam e sabiam que se ela entrasse ajudaria muito as pessoas. 
“Quando a Sumaia Zakir, que fundou a Carim depois que perdeu o pai, me pediu para ajudar, não tive dúvidas. Iniciamos nesta troca de diretoria. Eu como voluntária, meu filho e minha amiga fazendo parte da direção. Estamos lançando o selo empresa amiga da Carim, e a Unimed aderiu a este projeto social para identificar precocemente a doença renal!”, salienta ela, pontuando o quanto é triste ver pessoas morrendo por falta de informação e suporte adequado. “Por isso entramos nesta luta para explicar que todos, mesmo um paciente terminal, pode ter qualidade de vida por um tempo se fizer um transplante. Engraçado que tem gente que nasce com apenas um rim e vive bem, então, porque as famílias não doam os órgãos de quem falece?”, questiona Isabel.

Preocupante

Isabel destaca que tem aumentado o número de pessoas com DRC (doença renal crônica), em função da perda da qualidade de vida, alimentação inadequada com muito consumo de alimentos prontos, com altos teores de sódio, produtos químicos, uso indiscriminado de medicações pesadas como antibióticos constantes e anti-inflamatórios. 
“O rim é o filtro do corpo. Temos que cuidar bem dele, porque não existe cura para a pessoa que perde a função renal. E os rins transplantados duram em média 15 anos, a pessoa precisa manter a dieta e tomar imunossupressor pelo tempo que tiver o órgão transplantado, se não pode haver rejeição”, acentua.
Segundo Isabel, 20% dos transplantados se tornam diabéticos, efeito colateral do imunossupressor. “Eu sou uma pessoa muito ativa. Procuro viver normalmente, mas consigo porque aceitei a doença e tenho muita fé! A gente vê pessoas desanimarem desta vida de máquina por três dias na semana e então morrem! Peço às pessoas que pensem na importância da doação de órgãos para melhorar a qualidade de vida das pessoas renais”, frisa a supermãe de João Pedro e Matheus Rizo Torquato.

Foto: Cedida

Isabel e os filhos João Pedro e Matheus Rizo Torquato em momento de lazer

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