“-Mãe, estou grávida!” 

OPINIÃO - Marcos Akira Mizusaki

Data 23/06/2021
Horário 04:30

Muitos pais ou responsáveis já ouviram ou irão ouvir a frase acima de seus filhos adolescentes. Embora a notícia de uma vida a mais nos nutra de alegria, em razão da pouca idade e da baixa estrutura emocional dos futuros pais, geram-nos preocupações, não só às famílias, mas também ao Estado. 
Segundo relatório publicado em 2017, pela Organização Pan-Americana de Saúde, entre os anos de 2010 e 2015, a média brasileira foi de 68,4 bebês nascidos de mães adolescentes a cada mil meninas de 15 a 19 anos, sendo que a média mundial é de apenas 46 nascimentos a cada mil. Em 2018, nasceram no Brasil (fonte IBGE), 432.460 bebês de mães adolescentes, representando 14,94% de todos os nascimentos no país. Em entrevista com as adolescentes, a cada dez que engravidaram, sete foram indesejáveis, e seis não trabalham e não estudam. 
Em linhas gerais, nota-se que o nível educacional e social, bem como, a perspectiva de futuro, tem uma relação direta com a gravidez na adolescência e quantidade de filhos por mãe. Portanto, quanto maior o conhecimento da mãe sobre os custos materiais e emocionais que despende uma criança, bem como a sua perspectiva de futuro, menor o número de filhos. 
Infelizmente, a baixa escolaridade dos adolescentes acaba levando à prática de atos sexuais de forma irresponsável, sem uso de qualquer contraceptivo, gerando a gravidez indesejável ou até mesmo a transmissão de DST. As desigualdades sociais contribuem em desfavor de adolescentes que vivem em regiões onde políticas públicas chegam de forma deficitária ou tardia, deixando-as mais vulneráveis.
Uma universidade da capital fez um acompanhamento interessante com adolescentes de uma escola pública. Durante meses, fomentaram os adolescentes que construíssem seus projetos de futuro. Após sedimentarem mentalmente estes planos, colocaram a seguinte indagação: e se você engravidar (ou ser pai), como ficaria este projeto de futuro? Todos sentiram que aquele projeto cairia por terra ou seria postergado por muito tempo. O resultado neste grupo foi uma redução de 90% da incidência de gravidez (ou ser pai), quando cotejada com os outros adolescentes que não participaram do projeto. 
Depois de consumada a gravidez, os problemas aumentam. Com efeito, a jovem mãe tende a abandonar os estudos para criar a prole, e tem três vezes menos oportunidades de conseguir um diploma universitário. Também existem situações em que as jovens mães sequer conseguem cuidar dos filhos, deixando-os em situação de risco, agravando ainda mais sua vulnerabilidade, que já era precária, sem contar que alguns pais da criança, normalmente um outro adolescente, deixam de assumir qualquer responsabilidade, sobrecarregando ainda mais a nova mãe/adolescente. Um levantamento do Ministério Público de São Paulo revelou que dois terços dos jovens infratores da capital paulista fazem parte de famílias que não têm um pai dentro de casa.  
Concluindo, a gravidez na adolescência não deixa de ser um dos problemas sociais do Brasil e temos condições de melhorar. Assim, tanto o poder público como a sociedade civil em geral têm o dever de promover ações com o escopo de disseminar medidas preventivas e educativas que contribuam na redução da gravidez na adolescência.
 

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