“Meu amigo Lutcha”

O filme “Meu amigo Lutcha” encanta ressignificando a lenda do chupa-cabra. O longa é uma história de fantasia que, ao contrário dos rumores dos anos de 1990, nos apresenta a uma criatura bizarra, mas adorável. O filme é ambientado no México e vemos um protagonista, filho de mexicanos morando nos Estados Unidos, com vergonha de ser quem é. O personagem não consegue sentir orgulho de suas origens, principalmente por sofrer bullying por isso, mas nada que uma viagem ao México não possa mudar essa percepção. 
Além de falar do chupa-cabra, o filme mostra para o público juvenil a importância de reconhecermos nossas origens, de onde viemos e quem faz parte do nosso passado. O pré-adolescente Alex (Evan Whitten) vive em Kansas City com a mãe e sofre com a perda do pai. A mãe programou uma viagem do garoto para o México para conhecer seu avô Chava (Deminán Bichir) e os primos Luna (Ashley Ciarra) e o Memo (Nickolas Verdugo), e acaba indo contra sua vontade. Memo é um dos mais carismáticos de todo o longa. 
O filme chama minha atenção, pela relevância sobre temas muito atuais em relação aos conflitos existenciais vivenciados por todos nós. Alex, o protagonista atormentado pelo bullying sofrido constantemente pelos colegas da escola, foge para os seus “joguinhos “no videogame, de forma compulsiva. A crítica sobre videogames e outras formas de jogos alarma a sociedade pois, acredita-se que eles sejam os vilões das perversidades dos adolescentes. Penso que vivemos turbulências frequentes pois, domar nossos instintos ou impulsos torna-se uma tarefa muito difícil. Queremos tudo ao mesmo tempo, como ter um corpo escultural e comer compulsivamente. Assim, a matemática não fecha. 
A necessidade da realização dos desejos e incapacidade para tolerar frustrações são as brigas internas nossa de cada dia. A busca frenética por compensações instantâneas, mecânicas, vazias e insignificantes é uma realidade. O filme chama atenção em relação à constituição do psiquismo como: formação da própria identidade, personalidade e desenvolvimento, onde no caminho encontramos o mundo das fantasias, ingredientes tão importantes em direção à simbolização. Dar sentido e significado às faltas é permitir experienciá-las e realmente vivê-las. Os lutos e as perdas necessitam de elaborações e tudo ao seu tempo. 
Alex entra para o mundo mágico e fantástico, pisando em terra firme sem pular ou negar etapas em seu percurso, rumo ao desenvolvimento junto com os primos e avô. O filme emociona no sentido de nos levar para um universo de fantasias, envolvendo os jogos lúdicos, sem precisar de internet, videogames ou outros meios tecnológicos. 
Penso que a família tem um papel primordial. Sua dinâmica diária e todo o seu contexto ambiental pode levar a criança a constituir um repertório subjetivo para enfrentar o intolerável. O meio ambiente facilitador familiar e todo seu contexto continente, poderá levar a criança em direção às escolhas mais saudáveis. Finalizando, não são os videosgames ou seus infinitos  derivativos vilões,  são os conflitos, perdas e lutos  que não são elaborados de forma madura, e nos espaços vazios no entre ou passagem, há a oportunidade para entradas de tudo que possa destruir o psiquismo ainda pugnando por nascer (embrionário). Sempre buscamos o culpado. Onde há vazios, há oportunidades para entradas perversas. O ideal é aprender a simbolizá-los. Assistam o filme, irão gostar.
 

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