“É minha opinião, mas não é bem assim”, dizem eles.

Roberto Mancuzo

CRÔNICA - Roberto Mancuzo

Data 06/07/2021
Horário 06:25

Uma coisa que tem que surpreendido no debate social recente é a suavização de crimes, agressões e violências de toda ordem, como se fossem permitidas por estarem sob o escudo de termos muito mal utilizados como “liberdade de expressão”, “má interpretação de texto” e “polarização”. 
Tudo que é dito ou feito em nome destas três expressões tem causado muita dor, danos físicos, psicológicos e, pior, tem jogado por terra a esperança de uma evolução mínima da civilização humana. 
Se a gente quer um país melhor, isto não vai acontecer na base da hipocrisia e dos fins que justificam os meios. E é com base neste simples raciocínio que a gente entende também que não há “meia corrupção” ou “meia mentira”. Existe a corrupção e existe a mentira. Ponto. 
Assim também como há a assustadora mediocridade em se considerar melhor do que o outro simplesmente porque as ideologias são contrárias, ou pelo termo da moda, “polarizadas”. 
Quero combater aqui esta tal de “polarização” porque para mim é uma forma bem suave de justificar a ignorância, a maldade, a intolerância e a desumanização. 
Nossa sociedade se acostumou a mentiras, agressões, fake news e crimes de várias ordens sob o guarda-chuva da “polarização”. Como se tudo que estivesse embaixo desta cobertura fosse permitido.
O cabra faz e desfaz, xinga, quebra, briga, ofende e destrói e a gente ouve depois: “Você vê, né, essa polarização está difícil.” 
Não é assim que a banda toca e a polarização tem uma amiga: a “má interpretação de texto”, que é um termo muito usado por quem fala o que não deve, se arrepende ou é obrigado a se desculpar e vem com a história de que foi “mal interpretado”.
Um caso recente dá exemplo disso. 
A ex-jogadora de vôlei, Fernanda Venturini, disse em rede social que era contra a vacina da Covid-19, mas que tomava assim mesmo porque queria viajar o mundo. Depois afirmou que não era bem assim, que não foi “bem interpretada”. 
Olha, vai ver eu estou por fora de interpretação de texto mas qual outro sentido tem a frase “sou contra a vacina?” Tipo: ela disse que era contra a vacina, mas não quis dizer que era contra a vacina, entendeu? Não, não entendi e lá na minha terra isso tem um nome: hipocrisia. 
Para completar a tríade do mal, vem a “liberdade de expressão” e não tem como falar disso sem citar o recente caso do apresentador Sikêra Jr. 
Ele viu patrocinadores desembarcarem do programa Alerta Nacional, na Rede TV!, após afirmar que os homossexuais eram “gente desgraçada” e outros absurdos que nem darei palco aqui. Teve que vir a público dizer que se excedeu, mas que mantinha a opinião em defesa da família tradicional. 
Não, isso não é liberdade de expressão e nem opinião. Isso é homofobia encarnada em um discurso de ódio, como se heteros da família tradicional fossem seres humanos melhores que todos os outros. 
Você pode até querer não se posicionar porque tem medo das consequências, mas se for opinar cuide primeiro daquilo que não atinja a dignidade alheia. Simples assim. 

Publicidade

Veja também