Não me convidaram!

Roberto Mancuzo

COLUNA - Roberto Mancuzo

Data 19/09/2023
Horário 07:08

“Como assim ele não me convidou para a festa de casamento?” Esta foi a frase que soltei ao ver a postagem de um produtor de conteúdo na área de fotografia. Sim, ele se casou semana passada e eu fiquei sabendo apenas agora. Incrível como a gente é surpreendido, não? Você já passou por isso? Ruim demais ficar de fora. 
Tá, mas agora corta para a vida real! 
Realmente, eu teria muita razão em reclamar por não estar na lista do rapaz justamente no dia mais importante da vida dele se não fosse por um detalhe: nós não nos conhecemos pessoalmente e sequer trocamos mensagens no mundo virtual. Ou seja, ele é para mim apenas um efeito muito real que as redes sociais causam ao confundirmos mundo físico com o virtual. 
Vou explicar e talvez você já tenha vivido ou vive esta condição: você segue alguém por algum motivo, seja ele profissional ou pessoal. Talvez você já o tenha visto, até conhecido uma única vez, ou pior, nunca trocou um olhar com ele. Mas você consome tudo da vida dele. E de repente, o conteúdo exposto em rede e compartilhado com frequência, começa a fazer parte da sua vida também porque ficou legal acompanhar esta rotina. E nisso, você fica alegre ou se entristece conforme o humor do outro. E mais, chega ao ponto a que cheguei de achar estranho não ter sido chamado para uma festa, questionando também sobre não ser consultado por um relacionamento que vai começar ou uma grande decisão tomada.
É o fim, não? E já tem até nome esta prática: estalquear! Já, já estará no dicionário, se é que já não foi.
Em 1967, o filósofo e diretor de cinema, Guy Debord, lançou o livro “A Sociedade do Espetáculo”, e de uma forma bem direta revela que as relações sociais são, em parte, medidas pelas imagens, pelo consumo ou por heróis que gostamos de cultuar. Este culto, na verdade, é uma espécie de procuração que dou à celebridade para que ela viva a vida conforme eu desejasse que fosse a minha. Vivemos pelo que o outro faz e nos sentimos bem por suas conquistas e mal por seus infortúnios. E claro, consumimos tudo que está neste contexto. 
Viver a vida em rede social é retomar o conceito da Sociedade do Espetáculo, mas de uma maneira mais individualizada. Saem os heróis ou celebridades da TV e do rádio e entram em cena pessoas mais “comuns”, perto da própria realidade de nossas vidas, mas que amamos seguir porque conseguem fazer muitas vezes o que não podemos.     
Desculpe encaminhar esta reflexão de maneira pessimista, mas não sei onde iremos parar com isso tudo se realmente dedicarmos boa parte do nosso tempo e vida na barra da saia do outro. 
Viver deve ser um roteiro original em todos os aspectos e estar em rede deve servir para que possamos crescer de forma autônoma e crítica. 
E se de repente, você vive o lado de quem é o tempo todo observado, seja prudente. Se não quer ser cobrada pelo que faz em sua vida privada, se está namorando, com emprego, se engordou ou emagreceu, tem filhos ou não, não coloque isso tudo à venda porque uma vez “vendido” em rede, você será “cobrada (o)” em rede.
 

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