Jeitosinha, com cara de Barbie Morena, a Martinha era uma garota descolada que adorava uma farrinha, quer dizer, adorava balada. Baladeira da hora e, talvez, de grife. Vai daí que, quando terminava o expediente de trabalho no escritório de contabilidade na sexta-feira, ela não via a hora de chegar em casa para se produzir para a noitada.
Vestia o melhor "tecido". No caso em questão, "tecido" aqui significa vestido. Aliás, vestido, digamos, provocante, coisa de diva do cinema dos anos 40 e 50 do século passado. Ou vestido à la Lady Gaga, que não tem nada de gagá.
Quando dava coisa de 11 da noite, Martinha já estava arrumada, na maior estica, e ia sozinha para uma casa noturna, recinto com um quê de inferninho, onde, segundo o Stanislaw Ponte Preta, o diabo não entra para não se sentir inferiorizado.
A moça era frequentadora assídua e, por isso, os garçons sabiam o que a ilustre habitué gostava de beber. Martinha mandava ver na vodca e na cerveja, o que a deixava pra lá de Bagdá depois de tomar "milhares de gotas" dessas águas que trinca-ferro não bebe.
Entre uma dose e outra, a jovem dançava com os rapazes e se interessou por um deles. "Prazer, sou o Nonato, a seu dispor", disse um jovem que claudicava de uma perna. Martinha ficou encantada com aquele rapaz tão educado, que em nada lembrava os cafajestes tão comuns nas boates.
Os dois conversaram mais do que o Lula e o camarada chinês Xi Gin e Pinga, quer dizer, Xi Jinping quando discutem o comércio mundial. Martinha percebeu que o moço era coxo e usava uma espécie de pantufa adaptada no pé esquerdo. Como não era uma pessoa preconceituosa, ela não se importou com a deficiência física de Nonato.
Àquela altura do certame, os dois já estavam aos beijos e abraços, mais grudados do que cola de sapateiro. Claro que ninguém vai à balada para rezar, muito menos a Martinha e o Nonato. Já íntimos foram embora antes de o Sol nascer.
"Na minha casa ou na sua?", propôs o rapaz. Ao que a moça respondeu: "Prefiro motel com banheira de hidromassagem". Nonato aceitou de bate-pronto, pois queria fechar a noitada com chave de ouro ou, no mínimo, de prata e nunca de bronze.
Assim que chegou ao motel, o casal pensou primeiro na higiene íntima. Martinha foi logo tomar banho, pensando em usar a banheira mais tarde, depois do pega pra capar. Logo depois, o jovem tirou o "pano", isto é, se despiu e entrou no banheiro.
Ele deixou a porta aberta e, ao vê-lo peladão, um detalhe chamou a atenção de Martinha: ela estranhou a ausência do "documento". "Ué, você não tem bilau?", quis saber a moça. Com um sorriso maroto e ar superior, Nonato explicou: "Tenho sim. O que eu não tenho é a perna esquerda". Mais não disse nem lhe foi perguntado.
DROPS
De onde mais se espera também não sai nada mesmo.
Filme da semana no Cine Brasil: O Vendedor de Ilusões, estrelando mercadores da fé.
Pimenta nos olhos dos outros é pimenta mesmo.
Era um astrônomo tão eficiente que descobria estrelas até no céu da boca.