O filho da Marquesa

OPINIÃO - José Renato Nalini

Data 05/09/2023
Horário 04:30

Domitila de Castro, a Marquesa de Santos, é personagem célebre na História do Brasil. Por ela apaixonou-se o jovem Príncipe Regente, Pedro de Alcântara Orleans e Bourbon. Foram sete anos de convívio, alguns filhos (foram quatro) e muito material para a maledicência cortesã e plebeia.
Desfeito o romance, com o segundo casamento do Imperador, a Marquesa continuou influente na sociedade e veio a se casar com Rafael Tobias de Aguiar. Foi benemérita e a ela São Paulo deve, entre outros favores, situar a primeira escola de Direito do Brasil, a secular São Francisco. Sua vida, após o romance imperial, foi de benevolência e de exercício caritativo. Por isso é que o poeta Paulo Bomfim, de vez em quando, visitava seu túmulo na Consolação e colocava um botão de rosa vermelha.  
Nas Arcadas estudou ao menos um dos filhos de Domitila e Rafael. Exatamente aquele que levou o nome do pai e nasceu na capital em 1835. 
Era aluno regular e levou uma reprovação do professor Furtado e jurou desforra. Como era dado a valentia, os colegas temiam o encontro entre ambos. E o encontro se deu. Só que não houve agressão física. Rafael contentou-se com o grito “Sem ceroulas!” e correu em seguida. A assistência entendeu que foi melhor assim. 
Rafael e seu irmão Brasílico eram apaixonados por cavalo e criavam e educavam exemplares de raça apurada, próprios para corrida, para sela e para cobertura. Vangloriavam-se de serem os melhores cavaleiros de São Paulo. Um dia convidaram o Major Jesuíno, afamado criador de animais, com estância em Itapetininga. Desafiaram-no a montar um cavalo ainda não domado. Propuseram aposta de dez contos.
O Major Jesuíno disse que só apostaria o valor que trazia em sua bolsa. Os irmãos aceitaram, se prontificaram a contar e apuraram 50 contos. Diante disso, foram eles que desistiram da aposta. 
Rafael foi deputado à Assembleia Provincial no biênio 1860-61. Nunca advogou, viveu de suas rendas e faleceu em 31 de outubro de 1891.  
Quando defendeu a instalação do primeiro curso jurídico no Brasil, em 1827, a Marquesa talvez não tenha imaginado que seu filho estudaria no Largo de São Francisco e que continua ali, graças à sua influência junto ao primeiro Imperador do Brasil. 

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