O jovem de cabelos brancos

Roberto Mancuzo

CRÔNICA - Roberto Mancuzo

Data 11/11/2025
Horário 06:00

Eu tenho 50 anos e não me sinto velho nem de longe. Mas eu tenho cabelos brancos. Branquinhos mesmo e por isso muitas pessoas acham que sou velho. Óbvio. Não os culpo porque essa é a ideia equivocada de uma sociedade que se baseia em estereótipos. 

Eu tenho cabelos brancos desde os meus 27 anos, quando percebi uns fios aqui, outros ali. E de repente lá estou tendo que dar respostas variadas a pessoas muito sem noção que achavam que eu tinha muito mais idade do que aparentava até. 

Já me ofereceram vaga de idoso em estacionamento de shopping, já disseram para meus filhos chamarem o avô deles que estava lá no fundo (era eu!), já me ofereceram desconto em farmácia se eu mostrasse a carteirinha dos “60 +”. Olha, é cada situação que vou te contar e como eu sou de boa, dou risada e meus amigos tiram sarro quando conto. 

Mas a questão com o envelhecimento é séria e precisa estar no centro das nossas discussões em sociedade. O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) de 2025 trouxe justamente esta pauta na redação com o tema “Perspectivas acerca do envelhecimento da população brasileira”. 

Por “perspectivas” e não “desafios” eu compreendo que o debate precisa focar realmente não em uma massa de pessoas descartáveis, que tem o desafio de sobreviver, mas sim em um contingente de pessoas muito mais presente na sociedade do que há pelo menos 30 anos. Sim, os idosos já passaram os jovens em quantidade por aqui e como a medicina tem feito muitos avanços em prevenção, especialmente, a tendência é que estes números aumentem ainda mais.

Porém, o que precisa crescer mesmo é a consciência de que quem é idoso não é um inválido, especialmente porque em pleno século digital, o mundo dos computadores e das telas desafia qualquer um acima dos 60 anos e, pior que isso, faz aumentar ainda mais a visão equivocada que os jovens têm da galera que é mais experiente.  

Enquanto perspectiva social, este fato, aliás, aumenta ainda mais o etarismo porque uma pessoa é considerada apta e útil socialmente apenas se dominar o mundo das telas e não é bem assim. 

Óbvio que não dá para comparar a habilidade de um adolescente com um idoso no trato dos aplicativos e tendências digitais, mas isto nunca pode ser levado em consideração para se discriminar quem quer que seja. 

Os idosos possuem a seu favor não só a experiência, mas a paciência para não deixar que este mundo digital os engula como faz com muitos jovens que hoje se veem totalmente afogados em bits e bytes. Devagar, a galera dos cabelos brancos de verdade avança, cria seus perfis, ocupa seus espaços e mostra que a tecnologia não pode nunca ser excludente e sim proporciona mundos novos todos os dias.

Como eu disse no começo deste texto, com 50 anos nas costas eu não me sinto velho nem um pouco, mas também não tenho receio algum da caminhada que ainda tenho pela frente e tenho mesmo é orgulho dos cabelos brancos que fui conquistando ao longo do tempo. Cada um com sua história.  

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