Você provavelmente tem um parente obeso e certamente conhece uma ou mais pessoas que estão obesas (IMC > 30Kg/m2). E convive com várias pessoas com sobrepeso (IMC > 25Kg/m2) no trabalho, na faculdade, academia, igreja e círculo social. No Brasil 56% dos adultos estão com sobrepeso e destes, 20% sofrem de obesidade (1/5 dos adultos; ABESO). Esse percentual elevado de sobrepesados pode ser atribuído às pessoas individualmente, mas há também condições sistêmicas (fatores estruturais) que proporcionam o ganho de peso.
PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA
A obesidade é normalmente considerada no âmbito individual, podendo causar prejuízos devastadores à saúde, inclusive várias outras doenças e incapacitações. Porém, existe o aspecto mais amplo da obesidade como problema de saúde pública, que impõe custos bastante elevados aos sistemas de saúde público e privado. Portanto, é um problema que deveria preocupar o governo, os empresários da saúde suplementar e a sociedade, visto que o orçamento para saúde é limitado e o número crescente de obesos consome fatia cada vez maior.
PAPEL DO INDIVÍDUO
A obesidade tem componente genético e a evolução brindou a maioria de nós com genética propícia para o acumulo de gordura. Reserva de energia na forma de gordura é um mecanismo evolutivo de segurança para períodos de escassez de alimento. Porém, neste último século o consumo de alimentos supercalóricos (muito açúcar e muita gordura) aumentou, enquanto o gasto de energia para locomoção, trabalho, lazer e atividades diversas diminuiu (estilo de vida sedentarismo). O superávit calórico diário resulta em quase uma dezena de kg a mais na balança a cada ano.
AMBIENTE
Repare com atenção que os ambientes que frequentamos, a maioria deles, nos convida ostensivamente a ter comportamento sedentário (escada e esteira rolante, elevador etc) e a consumir alimentos com calorias vazias (doces, sorvetes, refrigerantes etc). A cultura e o comportamento das pessoas sofreram alterações sensíveis nas últimas décadas. Não raro as pessoas que ainda resistem com comportamento ativo e se mantêm seletivas quanto à alimentação, são silenciosamente e gradativamente moldadas pelo ambiente, ou seja, seu círculo social, e adentram no grupo maior, dominante.
FATORES MACROESTRUTURAIS
Considerando fatores que atingem a sociedade de forma mais ampla, o crescimento da obesidade está relacionado aos interesses econômicos e políticos que são de resolução mais complexa e de médio e longo prazo (anos ou décadas). A desigualdade social e o nível educacional também são bastante abrangentes e complexos, ambos contribuindo para a falta de acesso às informações corretas que poderiam evitar ao menos parte do problema. Pessoas privilegiadas com nível educacional mais elevado e quem têm acesso à informação de qualidade, como você que lê este jornal, podem usar o conhecimento e discernimento para selecionar as fontes confiáveis e informações corretas, cuidando da própria saúde e contribuindo com a saúde de pessoas menos afortunadas, mas que estejam dispostas a cuidar também da saúde.
Os ambientes que frequentamos nos convidam ostensivamente a ter comportamento sedentário e a consumir alimentos com calorias vazias.
Referências
Ferreira SRG, Macotela Y, Velloso LA, Mori MA. Determinants of obesity in Latin America. Nat Metab. 2024; 6(3): 409-432. doi: http://dx.doi.org/10.1038/s42255-024-00977-1
Palacios C, Magnus M, Arrieta A, Gallardo H, Tapia R, Espinal C. Obesity in Latin America, a scoping review of public health prevention strategies and an overview of their impact on obesity prevention. Public Health Nutr. 2021; 24(15): 5142-5155. doi: http://dx.doi.org/10.1017/S1368980021001403