Assuntos relativos à sexualidade, ainda hoje, são considerados um tabu. Muito velados e polêmicos, observamos uma continuidade e grande dificuldade em lidar ou abordar sobre esse tema, tão importante, principalmente, com as crianças, pré-adolescentes e adolescentes. Podemos, por alguns instantes, imaginar que a contemporaneidade escancarasse em suas entranhas, uma grande brecha em direção ao desvelamento e uma maior abertura com relação à propagação, elucidação e prevenção primária em direção a esse tema.
Ledo engano. Há uma abertura sim, para o exibicionismo corporal, perversão e obscuridade. As questões relativas à sexualidade, iniciadas desde a tenra infância, como algo tão importante para o desenvolvimento em direção à pulsão de vida, é velada, oculta e reprimida. A educação sexual deve ser iniciada pelos pais e, para isso, necessitam de muita orientação. Caso a criança tenha pais, proibitivos, censores e que também, foram censurados, desde a sua própria infância, cria-se uma ponte intransponível, em seu desenvolvimento para um pensamento saudável. A criança precisa de um continente para expressar e dar significado para as suas fantasias, sonhos chamados “terrores noturnos” ou pesadelos.
Freud, em 1900, recebe para tratamento uma garota de 18 anos, chamada Dora. Nesse texto, ele diz: “J’appelle un chat un chat” [literalmente: “Chamo um gato de gato”]. Ele afirma que: “a melhor maneira de falar das coisas é aquela seca e direta; ao mesmo tempo, é a mais distante da lascívia com que os mesmos temas são tratados na “sociedade”, com a qual garotas e mulheres estão muito acostumadas. Dou a órgãos e processos os nomes técnicos, e os informo-os nomes - quando elas não os sabem”.
Os pais quando trazem as crianças para atendimento, expressam um não compreender, um não saber, inibições e uma inexperiência em como lidar com aspectos excitatórios que são inerentes, oriundos do corpo, de sua criança desperta pela vida. Desconhecem que tudo é, antes de tudo, corporal, ou seja, o ego (consciência) é antes de tudo corporal. Somos fisiológico, biológico e corporal também. Quando há compreensão, respeito, diálogo e acolhimento, há evolução em direção à contenção psíquica.
“Pour faire une omelette il faut casser les ceufs” [Para fazer uma omelete, é preciso quebrar os ovos”], deve-se dizer a si mesmo. Não há do que se recriminar por discutir fatos da vida sexual normal ou anormal com eles. Tomando alguma cautela, apenas lhes traduzimos para o consciente o que já sabem no inconsciente, e todo o efeito da terapia se baseia, afinal, na compreensão de que o afeto ligado a uma ideia inconsciente, atua mais fortemente e, como não pode ser inibido, mais nocivamente do que o de uma ideia consciente.
É preciso dar eco nas instigações expressadas pelas crianças e adolescentes. Ouvi-las, recepcioná-las, acolhê-las e significá-las levarão a novos desdobramentos, e grande expansão. Assim sendo, há um para-excitação em direção às ansiedades difusas que são inerentes ao crescimento biopsicossocial. Não deixem que seus filhos sejam prezas fáceis, de possíveis pedófilos soltos por aí e por vezes, tão mais próximos do que a gente imagina.