É possível viver sem rede social?

Roberto Mancuzo

CRÔNICA - Roberto Mancuzo

Data 31/05/2022
Horário 06:00

Um americano chamado Jaron Lenier tem uma visão bem clara das redes sociais. Ele diz: “Evito as redes sociais pelos mesmos motivos que evito as drogas.”
Seria uma declaração normal se Jaron não fosse um cientista da computação, pai da realidade virtual e uma referência no Vale do Silício, onde estão as sedes de algumas das maiores redes. 
Já explico a razão de uma autoridade deste porte dizer isso, mas antes pergunto ao Jaron e a vocês, amigos: é possível viver sem estar presente nas redes sociais? Por viver eu digo se relacionar de maneira constante, estudar, fazer negócios e até namorar.
Difícil responder a esta pergunta sem levar em conta muitos fatores. 
O conceito de rede social não é novo. Data da década de 1960, após os primeiros experimentos de observação da vida cotidiana em uma vila pesqueira na Noruega por parte de um pesquisador britânico chamado John A. Barnes.
Ele descreveu a rede social como sendo os contatos estabelecidos pelas pessoas na vida cotidiana, feitos de forma horizontal, portanto sem hierarquia, dinâmica, flexível e distributiva. 
Enfim, exatamente o que fazemos nas nossas redes sociais digitais. Não nos submetemos a ninguém para postar ou deixar de postar; fazemos isso de forma espontânea ou planejada, mas fazemos; e ora temos mais ação, ora menos. Mas sempre estamos ali porque de fato a vida seria uma porcaria sem que estivéssemos em rede.
O detalhe do conceito de Barnes que mais gosto, porém, é que ele percebe que a rede social só funciona como tal porque é distributiva. Ou seja, como em uma rede de pesca, as ramificações, ou nós, são inúmeras e os contatos potencializados. Fora que pela característica da distribuição, é praticamente impossível que a comunicação entre os indivíduos seja interrompida. De maneira direta ou indireta, sempre estaremos em contato. 
O Jaron Lenier, que citei antes, diz que quer ficar longe demais das redes porque todas foram fundamentadas em modelos de negócio que vão sempre priorizar a persuasão por algo ou algum produto. E isso é uma fábrica de emoções, distorções da realidade, medos, traumas, euforias e stress.  
Bem, errado ele não está, mas eu acredito que se você souber usar bem as redes sociais, sua vida pode ser muito mais alegre, com boas e promissoras amizades, além de mais produtiva e rentável.
A questão é que assim como no mundo físico, fazer amigos nas redes é fácil. Aliás, mais fácil até diria por que quando conhece alguém pessoalmente precisa de um tempo ainda para descobrir detalhes importantes e dizer se vale ou não a pena continuar o relacionamento.
Pelos perfis é mais tranquilo. Em quatro ou cinco postagens você já tem a descrição perfeita se a amizade vai ser boa ou se é preciso correr da pessoa. Negócios também podem ser potencializados pelas redes. 
Há um ditado no marketing digital de que é possível comprar e vender qualquer coisa pela internet. Concordo e fico bem assustado ao observar a verdadeira “feira” que acontece no grupo do meu condomínio todos os dias. Eu mesmo já vendi por lá. Nos dias que esfriam, então, a oferta de comida dobra e a galera cai de sola. Se embalar um montinho de terra comum, bem embaladinho, e soltar uma boa proposta, acho que vende. 
Enfim, as redes sociais não podem mais ser ignoradas como espaço públicos de convivência. Podemos produzir mais e levar nossa mensagem a muito mais pessoas. Optar por não estar na rede é uma decisão e uma aceitação de que o mundo vai passar primeiro por lá antes de chegar aos seus ouvidos. E pode até ser tarde demais. 
 

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