“Presidente Prudente, cidade que seduz, de dia falta água e de noite falta luz”

Benjamin Resende

COLUNA - Benjamin Resende

Data 25/10/2020
Horário 05:20
Vista Parcial de Presidente Prudente, em 1954
Vista Parcial de Presidente Prudente, em 1954

Ditado este que começou na cidade do Rio de Janeiro, numa modinha de carnaval. São duas histórias, a de fornecimento de água e a de energia elétrica. Fiquemos com esta. É uma aventura datada de 1924. Iniciou-a um grupo de homens ligados à Cia. Marcondes de Colonização, Indústria e Comércio. A experiência vinha de concessões de outras cidades paulistas. Uma cidade copiava a outra, para implantar o seu progresso. Em Presidente Prudente, também houve a febre da eletricidade. Instalava-se uma usina termoelétrica, alimentada por um locomóvel e gerador de 60 KVA. Foi com esse potencial que se criou, em Prudente, a geração de energia elétrica, primeiro na Vila Marcondes, sede da Companhia. Do outro lado da ferrovia, o patrimônio era conhecido ora como o do Veado ora como Vila Goulart. Cada lado possuía a sua política, querendo cada um o progresso mais depressa, para o seu território. Mas esse serviço foi sendo feito, aos poucos, com a colocação de postes de madeira e fios de cobre importados. E brigas e rixas se articulavam de ambos os lados. Posto o gerador para funcionar, a lâmpada parecia um vaga-lume. Uma luz mortiça, produzida apenas por um gerador de 60 KVA. Por isso, economizar era preciso. O fornecimento começava ao anoitecer ou, como se dizia, na boca da noite e ia até à meia noite. Em dias de festas cívicas ou de empolgantes bailes, a energia varava noite a dentro, até o raiar da madrugada. Em 1928, uma nova empresa surgia em Prudente. Transferia-se a concessão para a Empresa Elétrica de Presidente Prudente Ltda., sendo seus fundadores João Gonçalves Foz e Vail Chaves. Iniciava-se, praticamente, do marco zero. A rede de distribuição não condizia com a potência de antes e fora totalmente retirada. Em seu lugar, construíram-se novas linhas de alta tensão, com 2.200 volts, alimentadas por uma insta lação provisória, montada na Serraria Jesus, local do equipamento elétrico. E a serraria fornecia a força motriz. Duzentas e dez ligações foram feitas nesse ano. A Empresa começou a crescer. Outras concessões foram adquiridas. Ainda em 1928, o Dr. Vail se desligou da firma. No ano seguinte, o Dr. Foz ampliou a participação e organizou uma companhia, para melhor suprir as necessidades da região. Nasceu, assim, em dois de janeiro de 1929, a Companhia Elétrica Caiuá, tendo, como sócios majoritários, João Gonçalves Foz e Francisco Machado de Campos, contando com grande número de subscritores de ações. Para suprir as necessidades não só de Prudente, mas também da região, construiu-se uma usina hidroelétrica no rio Laranja Doce, no distrito de José Theodoro, hoje Martinópolis. Imediatamente passou a atender a quinhentos e setenta e dois consumidores, aumentando a linha de transmissão da usina Laranja Doce. Um incêndio de grandes proporções, na Serraria Jesus, destruiu todo o equipamento da Empresa. Somente em 1930 é que se restabeleceu o fornecimento de luz elétrica. E a luz era fraca como uma lamparina. Daí a modinha carnavalesca que pegou e virou cantoria xistosa, não só em Prudente, mas também em quase todas as cidades brasileiras. Energia elétrica de verdade, porém, só surgiu em 1957, com o suprimento produzido pela Usina de Salto Grande, com 88.000 wolts. E Prudente adquiriu ares de cidade moderna, com a substituição de postes de madeira por postes de concreto. Entretanto é bom lembrar que o começo não foi nada fácil. Em 1924, na implantação dos serviços, contava-se que a Companhia fincava os postes durante o dia e, à noite, a ala adversária os arrancava. Colocou-se, então, um guarda armado, com um trinta e oito, em cada poste. Por isso, a brincadeira da população, na época, era saber quem seria o poste deitado no chão, na manhã seguinte, se o guarda ou se a madeira. E, por um bom tempo, dois eram os postes, o alto dava luz e o baixo o estampido. Vivia-se a energia, “Força mais do que Luz”.

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