“Só tenho que agradecer por mais um acesso em minha carreira”

Luiz Carlos Martins, ex-técnico do Grêmio Prudente

Esportes - CAIO GERVAZONI

Data 21/05/2024
Horário 20:27
Foto: Murilo Aguilar/Grêmio Prudente
Um mês do acesso: Luiz Carlos Martina fala pela 1° vez após saída do Grêmio
Um mês do acesso: Luiz Carlos Martina fala pela 1° vez após saída do Grêmio

Há um mês (dia 21 de abril), o Grêmio Prudente conquistava o acesso para a Série A2 do Campeonato Paulista diante do EC São Bernardo, no Estádio Bruno José Daniel, em Santo André. O responsável por conduzir o Carcará a um novo patamar no futebol estadual não renovou com a equipe e retornou a Bauru, sua terra natal, após o término da Série A3, quando seu vínculo com o Grêmio se encerrou. A reportagem de O Imparcial entrou em contato com Luiz Carlos Martins, o Rei do Acesso, e conversou com o treinador sobre a sua breve “monarquia” em Presidente Prudente e seu futuro no futebol. 

Professor, como está sua vida no futebol após a saída do Grêmio Prudente?
Estou tranquilo aqui em Bauru. Resido por aqui, minha família mora aqui, tenho meus negócios aqui. Praticamente faz um mês que terminou o nosso compromisso em Prudente. Esse compromisso era o acesso e graças a Deus ele aconteceu. Meu contrato venceu após o último jogo da A3 e não chegamos a um acordo. Vim para Bauru e estou resolvendo algumas coisas minhas por aqui. Tem algumas situações [de contato com outros clubes], mas neste um mês e meio [após a saída do Grêmio Prudente] pretendo ficar quieto. 

Neste segundo semestre do futebol brasileiro e estadual, o senhor pretende assumir algum clube? 
É... treinador você sabe como é que é, né? Treinador às vezes está em casa e tem que esperar alguma coisa, os campeonatos estão começando: Série A, Série B, Série C, Série D, copas... Então, as coisas vão acontecendo. Eu não costumo ficar muito em casa não. Depois da saída minha do Grêmio apareceram duas condições [propostas], mas no momento eu tenho que resolver algumas coisas particulares aqui em Bauru.

E, professor, como foi esta passagem meteórica pelo Grêmio Prudente?    
Graças a Deus foi boa em todos os sentidos. Eu nunca tinha trabalhado nesta região [de Prudente]. Trabalhei no Marília, na Série B do Brasileiro em 2005. Há uns 30 anos, quando estava iniciando a minha carreira, cheguei a trabalhar na Paraguaçuense e conseguimos o acesso. E agora, com esta experiência no Grêmio, trabalhando em Prudente foi algo muito bom: cidade boa, povo bom. 
As coisas começaram a andar bem a partir do momento em que nós chegamos ao comando do clube. O grupo assimilou bem aquilo que nós queríamos. Meu objetivo quando fui para Prudente era um só: tentar classificar o time entre os oito, com preferência entre os quatro primeiros, e depois chegar na Série A2 que era o pensamento de todos. Só tenho que agradecer por mais um acesso em minha carreira. Fico feliz, mesmo porque todos aí na cidade me trataram bem. Quero que as coisas caminhem bem para o Grêmio e continuem desta forma. 

O Grêmio chegou a fazer alguma proposta de renovação de contrato?  O senhor pretendia seguir aqui em Prudente? Como foi este trâmite após o término da A3? 
Olha, como se diz, missão dada é missão cumprida, não? Eu não conhecia muito Prudente e o pessoal que estava dirigindo o time. Quando eu trabalhei no Mirassol, eu conheci o Juninho e o Galli, que mexe com bingo e é um cara sensacional também. Então, por intermédio do Juninho, eu fui para Prudente e conheci o presidente André Garcia e os diretores Paulinho Tomasete e João Paulo Tardin. São pessoas maravilhosas e honestas. Enfim, cheguei por aí e felizmente o grupo assimilou minha forma de trabalho, foi acontecendo, classificamos entre os quatro, tivemos um mata-mata muito difícil contra dois times muito duros e graças a Deus e ao esforço de todos, conseguimos passar. 
Enfim, meu compromisso era até o término da competição. A partir daí, batemos um papo e não conseguimos chegar num denominador comum [para renovação]. Mas as coisas são assim mesmo, o pessoal aí é nota 10. 

Mas o senhor pretendia ficar por aqui? O clube chegou a colocar algo na mesa? É possível dar mais detalhes? 
Olha, não é questão de detalhe. Quando a gente é bem tratado num lugar e as coisas acontecem positivamente, acho que há sempre um interesse dos dois lados, mas às vezes não se consegue chegar em um denominador comum. Entendeu? 

Qual era esse denominador comum, professor? 
Veja bem, são detalhes. Não é querendo... mas sem muita explicação: meu contrato venceu e nós não chegamos em um acordo para continuar. Foi isso que aconteceu. Eles me procuraram, nós sentamos na mesa e conversamos. O pessoal aí é nota 10. 

Ambas as partes quiseram fechar com chave de ouro? 
Isso aí. Minha comissão tem porta aberta com Prudente e Prudente tem porta aberta conosco. 

Professor, agora de maneira mais ampla, como o senhor, com quase 70 anos de idade, vê a evolução do futebol desde que começou sua carreira como treinador?  
Como se diz: não vamos falar em idade. Em nenhum setor da nossa vida, a gente fala de idade. O que manda é a condição: conhecimento, condição física, mental, condição de trabalho. Acho que é por aí. 
Comecei muito cedo. Eu, com 30 anos, já estava trabalhando no Rio Branco de Andradas, em Minas Gerais, num acesso da segunda para primeira divisão de Minas. Com 31 anos, estava enfrentando o Cruzeiro, de Carlos Alberto Silva, e o Atlético Mineiro, de Telê Santana. Enfim, já passei muita coisa no futebol. E a cada dia que passa eu aprendo mais. Fiz curso na Federação Paulista de Futebol, na CBF [Confederação Brasileira de Futebol] no Rio de Janeiro. Vai aprimorando, vai estudando, vai olhando. O futebol é lá dentro, é resultado positivo. Se não tiver resultado positivo, não adianta nada. 
Cada treinador tem sua maneira, sua forma de trabalhar, de lidar com o grupo, de tratar o jogador. O treinador não é só a parte técnica e tática. O treinador tem que ser um comandante, um administrador, seja da parte tática e técnica, seja da parte humana, um administrador de problemas e de pessoas. As coisas são por aí e, pra mim, tem dado certo. Eu pretendo ainda subir mais uma meia dúzia de clubes. 90% dos clubes que trabalhei as coisas deram certo, nos outros 10% não deram, mas aí você tem que ir na porcentagem maior. 

"MEU COMPROMISSO ERA ATÉ O TÉRMINO DA COMPETIÇÃO. A PARTIR DAÍ, BATEMOS UM PAPO E NÃO CONSEGUIMOS CHEGAR NUM DENOMINADOR COMUM [PARA RENOVAÇÃO]. MAS AS COISAS SÃO ASSIM MESMO, O PESSOAL AÍ É NOTA 10"

Nessa estrada de mais de três décadas do senhor no mundo do futebol, qual é a mudança mais perceptível?  
Quando chega a tecnologia como chegou, às vezes, você tem que trabalhar de outra forma, de outra maneira. Mas o conteúdo dentro do campo, você tem que por em prática o que é o futebol. Quando o conteúdo não faz sentido, o futebol não ocorre. 
Por exemplo, há um tempo atrás, você trabalhava um contra-ataque e hoje é uma transição rápida. Antigamente era ficar com a bola, hoje é manter a posse. Então, você tem todos estes requisitos, pensamentos e palavras para dirigir um time. Creio que o futebol acontece lá dentro de campo e cada treinador tem sua forma de trabalhar. Sou um treinador que gosta de trabalhar de forma variada. Depende muito do momento, do grupo que você tem em mãos e das características dos jogadores. 

E qual característica falou mais alto aqui no Grêmio? 
Olha, as coisas aconteceram. Cheguei aí e fiquei um pouquinho preocupado nos dois primeiros jogos, mas depois eu fui conhecendo, alguns jogadores já tinham trabalhado comigo, outros já tinham jogado contra. Senti um bom acolhimento do povo da cidade. A diretoria foi honesta. O clube contou com um grupo de apoio bom. Os jogadores assimilaram bem aquilo que eu queria na minha forma de trabalhar, do meu jeito de ser. Os resultados começaram a acontecer, a coisa ficou boa, o ambiente ficou bom e, graças a Deus, aconteceu o que aconteceu: conseguimos o acesso.

Tem como listar os acessos que o senhor já conseguiu no futebol? 
Rapaz... olha, assim de memória é complicado. Eu subi vários times. Subi da Série C para Série B com Oeste de Itápolis, subi o São Caetano, subi o Noroeste duas vezes, o Mirassol uma duas vezes também, o Rio Branco de Andradas no Campeonato Mineiro... enfim, de cabeça eu não vou lembrar tudo não. 
Aproveitando essa oportunidade, algo que não tive desde que deixei o Grêmio, eu gostaria de agradecer a crônica de Prudente, desde da escrita, falada à televisionada.  Agradecer a todos, dos torcedores ao presidente André, aos funcionários mais humildes do clube, são pessoas maravilhosas. A torcida da mesma forma, que sempre me respeitou e entendeu. Fico muito feliz de ter trabalhado aí em Prudente, quero deixar um abraço a todos, que Deus ilumine sempre o Grêmio Prudente e a toda cidade. Só queria falar também para o pessoal ter um pouquinho mais de calma no trânsito hein... Não estou criticando não, mas o pessoal tem que ser mais devagar, a cidade é boa, maravilhosa, o povo é bom, o Grêmio hoje está na Série A2 e está a um passo da A1. Desejo toda sorte ao Cléber Gaúcho, que é um cara sensacional, íntegro, de bom caráter, um profissional de qualidade. Trabalhamos juntos na União Agrícola Barbarense quando ele estava encerrando a carreira de jogador e eu começando a de técnico. 

Obrigado, professor. Desejo que o senhor continue com sucesso em sua carreira. 
Ah, Caio, mais uma coisa: não se fala em idade e nem de salário.

Mas é possível perguntar, não? 
Pode perguntar, mas eu não posso falar. 

Qual é a sua idade e quanto é o salário que o senhor ganha? 
Eu ganho mais do eu mereço e pouco pelo o que eu faço.

E a idade? 
Passei dos 55. 

Alexandre Battibugli/Ag. Paulistão

Em 16 jogos na A3 a frente do Grêmio Prudente, LCM venceu oito duelos, empatou dois e perdeu seis; ele foi eleito o melhor técnico da terceirona em 2024

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