“Tendência é aumentar ainda mais”, pontua agrônomo da Cati sobre preço do café

Baixa dos estoques nacionais, falta de produtores e fatores climáticos somados aos prejuízos de safras anteriores caracterizam tendência de alta

REGIÃO - CAIO GERVAZONI

Data 03/03/2022
Horário 04:05
Foto: Caio Gervazoni
“Tomo de um a dois litros de café por dia. Não tenho preferência”, relata o eletricista Carlos Amorin
“Tomo de um a dois litros de café por dia. Não tenho preferência”, relata o eletricista Carlos Amorin

O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de janeiro, divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no início deste mês, revela que o preço do café moído soma alta pelo 11º mês consecutivo. Em relação a dezembro de 2021, o aumento é de 4,75%. E a tendência é que o tradicional cafezinho do dia a dia fique ainda mais caro no bolso do trabalhador brasileiro. Quem indica isso é engenheiro agrônomo da Cati (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral) e chefe da Casa da Agricultura de Regente Feijó, Geraldo Arruda Neto.
Segundo o engenheiro agrônomo, a baixa dos estoques nacionais, falta de produtores, fatores climáticos, como secas e geadas, somados aos prejuízos de safras anteriores caracterizam a tendência de alta no custo do café. “O que a gente entende, acompanhando os produtores, é que os estoques nacionais estão baixíssimos devido, principalmente, à diminuição dos produtores de café. Muitos quebraram e outros arrancaram cerca de 70% de seus pés devido a prejuízos de anos anteriores. Os preços não cobriam os custos. Hoje, esses que quebraram não conseguem se reerguer tamanha a dificuldade”, explica Geraldo. Ele narra que os fatores climáticos também irão interferir na colheita e, consequentemente, influenciar na tendência de aumento do preço do insumo. 

Ivair Sotocorno/Associação dos Produtores Rurais do Bairro Palmitalzinho

Diminuição dos produtores de café é uma realidade

Cenário atual

Questionado se o encarecimento da saca não representa um lucro maior para os cafeicultores, o engenheiro agrônomo é categórico ao falar sobre o atual cenário. “Não. Infelizmente, não. No Brasil, quem aufere lucro quando sobe o preço são os atravessadores que detêm o estoque”, expõe Geraldo, e relata que os insumos agrícolas também tiveram alta exorbitante e, por isso, esses fatores interferem na produção e não dão margem de lucro a quem investe na safra. “Quem tá [sic] tendo este lucro considerável é o produtor que tinha café estocado de anos anteriores, que não precisaram vender com aqueles preços baixos que vinham acontecendo desde o ano passado”, completa o engenheiro agrônomo.
“E sim, o preço vai continuar subindo. Sobraram poucos produtores, portanto, não tem produto disponível na praça. Não tem café. Os que estão colhendo ou vão colher terão uma quebra considerável na colheita. Infelizmente, na nossa agricultura é assim: dá a alta de preço e todo mundo sai plantando. Há uma demanda [sic] tremenda. Por incrível que pareça está falando muda. Muitos que querem plantar não encontram muda, somente para fevereiro do ano que vem. Então, é uma loucura”, especula o chefe da Casa da Agricultura de Regente Feijó, Geraldo Arruda Neto. Ele complementa que o aumento do plantio nesse cenário deve impactar na queda do preço do café moído somente daqui dois ou três anos. “Recomendamos o plantio com cautela. Plantar aos poucos para sentir como o mercado vai se estabilizar”, pontua. 

Nas gôndolas dos mercados

Nas gôndolas dos supermercados de Presidente Prudente, um pacote de 500g de café moído pode ser encontrado hoje numa faixa de preço que vai de R$ 13 a R$ 25, a depender da marca e da qualidade do grão torrado. 

Caio Gervazoni

Nas gôndolas dos supermercados de Prudente, pacote de 500g de café moído varia de R$ 13 a R$ 25

Marcas mais em conta

Entre uma conferida e outra por pacote, a cozinheira e proprietária de uma marmitaria fitness, Ana Candida, relata que não começa o dia sem tomar um cafezinho e que as altas consecutivas de preço a fizeram optar por uma marca mais em conta. “Olha, eu e meu filho amamos café, mas com esta alta, a gente agora até mudou a marca do café. A gente não quer pegar por um café tão inferior, mas ainda manter a qualidade, porém, está difícil, porque o preço subiu muito. Muito mesmo”, conta. 
Para a autônoma Katia Bertani, o café também é uma bebida sagrada para começar o dia, porém, assim como Ana, ultimamente, ela tem optado por marcas que ofertam preços menores. “Eu até tinha uma marca específica, mas agora, como tá [sic] muito caro, eu vou na marca que tá mais em conta, e como eu tomo bastante café, não tem como ficar sem, né?”, relata Katia. 
Apaixonado pela bebida de tonalidade escura, o eletricista Carlos Amorin prefere rememorar décadas passadas, onde as pequenas propriedades rurais tinham plantações de café, porém, foram suplantadas por grandes propriedades e outras monoculturas. “Hoje em dia se tornou tudo pasto. Quem planta café são só os grandes produtores, se o pequeno produtor produzisse, ficaria mais barato. Penso desta maneira: a produção é pouca e restrita, a demanda é grande e, com isso, o preço vai lá no alto. Aqui na região mesmo, tudo o que era cafezal, hoje em dia ou é pasto, ou é batatal ou é cana-de-açúcar”, relata o eletricista, que toma café em todas as situações possíveis. “Tomo de um a dois litros de café por dia. Não tenho preferência. Quente, frio ou gelado, tomo café de qualquer jeito”, completa Carlos, que bem como Ana e Katia, também lamenta o preço atual do grão. 

Publicidade

Veja também