Vai ter golpe?

OPINIÃO - Thiago Granja Belieiro

Data 09/09/2021
Horário 04:30

Vai ter golpe? Essa foi a pergunta que mais ouvi e li nos jornais nos últimos dias. Um questionamento absurdo, desnecessário e despropositado para a maior democracia da América Latina. Contudo, a questão está aí e a familiaridade com a qual a tratamos pode ser explicada pela História e pela conjuntura contemporânea. 
O Brasil tem um longo histórico de golpes. O primeiro deles, o da Maioridade, fez com que um garoto de 14 anos assumisse o trono do Brasil Império, vindo a governar por quase 50 anos. Sua queda ocorreu através de novo golpe, o Republicano. Esse período acabou com o golpe representado pela “Revolução de 30” que alçou Getúlio Vargas ao poder por 15 anos e que deu um golpe em si mesmo com o Estado Novo. Mais tarde, entre tentativas de golpe (impedimento da posse de JK e parlamentarismo de 1961), tivemos o fatídico golpe de 1964, do qual todos sabemos o resultado. Igualmente, o golpe de 2016 nos é bastante familiar e mais uma vez, os trágicos resultados estão aí para qualquer um que queira enxergá-los. 
Em 2021, vivemos uma inédita situação de golpismo. Um presidente democraticamente eleito, na ocasião bem votado, e que ainda ostenta apoio de quase 25% da população (em Presidente Prudente essa cifra é certamente maior), que aparentemente tem o 2º turno garantido nas eleições do ano que vem, que conta com certa governabilidade ancorada no fisiológico apoio do Centrão flerta abertamente com um golpe de Estado. A pergunta que deveríamos fazer é, porque o presidente da República precisa de uma ditadura? 
Na maior parte dos golpes pelos quais o Brasil passou, sempre tínhamos inimigos, reais ou imaginários. O risco da fragmentação do Império, a Monarquia, o Coronelismo, o Comunismo, o PT. E hoje, quais os inimigos a serem derrubados pelo golpe de 2021? A democracia que impede o autoritarismo? O STF (Supremo Tribunal Federal) que impede a impunidade? O Congresso que tenta, mas não consegue impedir a disfuncionalidade do governo? A educação pública que aos frangalhos impede a alienação total da população? A imprensa, que bravamente impede a ignorância dos fatos? 
Os inimigos de hoje, caro leitor, são a inflação, a crise econômica, o desemprego, a crise energética, a pandemia, o aquecimento global, a incapacidade de liderança, diálogo e governança, e para tais problemas, a democracia é a única solução possível. 
 

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