17,2 mil viajam por dia para cidades da região

O sociólogo e educador Luiz Antônio Sobrero Cabrera salienta que a história do Brasil tem uma tradição migratória, primeiro das praias para os centros, e depois do nordeste para o sudeste.

REGIÃO - Mariane Gaspareto

Data 26/03/2015
Horário 08:09
 

Conforme informações do estudo "Arranjos Populacionais e Concentrações Urbanas do Brasil", divulgados ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), baseado em dados do Censo de 2010, 17.208 pessoas se deslocam diariamente para trabalhar ou estudar em outras cidades da região de Presidente Prudente. Com o propósito de fornecer um modelo territorial das relações econômicas e sociais, intrínsecas ao processo de urbanização, o estudo identificou 294 arranjos populacionais no país, medidos pelos movimentos pendulares para trabalho e estudo, ou seja, o vaivém diário de pessoas entre dois lugares.

Dessa forma, o instituto identificou cinco arranjos populacionais na região: Adamantina-Lucélia, composto por quatro municípios; Pirapozinho, com duas cidades; Presidente Prudente, que engloba nove municípios; bem como Presidente Venceslau e Tupi Paulista, ambos compostos por duas cidades.

Juntos; eles somaram 34.416 viagens diárias entre as cidades, resultando em um total de 17.208 pessoas se deslocando por dia para trabalhar ou estudar fora, o que representa 7,4% do total de pessoas que trabalham e estudam nos locais (230.962). A grande maioria (92,5%, ou 213.754 pessoas) estuda e trabalha em seu município de domicílio.

O arranjo de Prudente possuiu o maior número de viagens realizadas (26.114), com 13.057 pessoas se deslocando diariamente, seguido por Adamantina-Lucélia, com 4.830 movimentações, e 2.415 viajantes. Pirapozinho figura no terceiro lugar do ranking, com 777 pessoas se deslocando por dia e 1.554 viagens, e Presidente Venceslau está na quarta colocação, com 1.316 idas e voltas por dia e 658 moradores que se deslocam para trabalhar ou estudar. Já Tupi Paulista ocupa a última posição, com 602 viagens e 301 viajantes.

O sociólogo e educador Luiz Antônio Sobrero Cabrera salienta que a história do Brasil tem uma tradição migratória, primeiro das praias para os centros, e depois do nordeste para o sudeste. Conforme explica, o que ocorre hoje é um fenômeno chamado de micromigrações, que consiste nesses deslocamentos diários entre cidades próximas. "O objetivo é muito claro, preencher lacunas no espaço acadêmico e laboral, sem ir para longe dos familiares e conhecidos. É uma busca por melhores oportunidades", afirma. Segundo o sociólogo, dentro desse movimento também ocorre uma espécie de migração inversa, de cidades maiores para menores, por uma saturação de mercados de trabalhos específicos. "Em nossa região, as faculdades estão concentradas em Prudente e Adamantina, o que atrai muitos estudantes que vão e voltam todos os dias. No entanto, ao se formarem, muitas vezes precisam retornar a outros locais para encontrar emprego", explica.

 

Cidades-dormitório

No município de Álvares Machado, por exemplo, são 6 mil movimentações diárias e 3 mil pessoas se deslocando para outras cidades. A maioria, conforme o prefeito Horácio César Fernandez (PV), vem para Prudente estudar e trabalhar. "Já notamos há muito tempo que somos uma cidade-dormitório, e crescemos justamente por nossa proximidade da capital do oeste paulista", aponta. "Todavia, não temos uma grande oferta de empregos, porque somos movidos pelo comércio e pelo setor de serviços, enfrentando concorrência direta com Prudente. Então, forma-se um ciclo: as pessoas consomem mais lá, sem movimentar o nosso comércio, minando a geração de empregos", acrescenta.

Outra cidade-dormitório da região é Pirapozinho, segundo o estudante de Engenharia Agronômica, Guilherme Batalini de Souza, 22. "Estudo em Prudente desde 2009, e viajar diariamente foi a opção mais cômoda para mim. Pude fazer o curso que eu queria, evitando um gasto maior com mudança, aluguel, alimentação, energia e etc", relata. Já o estudante de Jornalismo, Diogo Bearbedo, 24, chegou a morar em Prudente no primeiro ano de faculdade, mas voltou para Presidente Venceslau, onde trabalha atualmente.

"Eu precisava pagar a faculdade, mas havia essa necessidade de estudar em Prudente, porque temos uma faculdade com poucos cursos e menos reconhecida onde moro. É cansativo viajar todo dia, mas acaba compensando financeiramente, pois os gastos também são menores", considera Bearbedo.
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