Um sol de rachar e até posso exagerar dizendo que era um sol de fritar ovo no asfalto, um sol de fim de manhã. Na estrada municipal, o matuto seguia montado em seu cavalo que parecia mais cansado do que o marcador do Neymar.
Afinal, o calor era demais, ainda mais para um cavalo vira-lata, um autêntico pangaré. Mas o equino seguia com seu passo de ganso carregando o cavaleiro, o matuto descrito acima.
Eles já estavam na estrada há um bocado de tempo, talvez umas duas horas. Iam pra casa num sítio e seguiam, como é óbvio, pelo acostamento.
De repente, eis que surge do nada um playboy, do tempo em que havia playboys e não novo rico ignorante, como é comum hoje em dia e hoje em noite.
O sujeito dirigia um carrão importado e, num trecho meio íngreme da estrada, diminuiu a velocidade e praticamente emparelhou com o matuto, que usava um sombrero.
O playboy, com cara de agroboy, resolveu tirar um sarro do caipira. Desdenhou e debochou do pobre homem. "E aí, caipira, vamos tirar um racha, vamos apostar uma corrida", sugeriu o arrogante.
E completou: "Você só tem este cavalinho. Eu tenho 200 cavalos sob o capô do meu carro". O matuto apenas esboçou um sorriso amarelo e seguiu com seu pangaré em marcha lenta.
Depois de zombar do caipira, o sujeito acelerou o carrão e saiu voando baixo, correndo mais do que o Lewis Hamilton na Fórmula 1.
O matuto e o cavalo "comeram poeira", pois a estrada era de terra, mas bem conservada, o que permitia o pé na tábua para motoristas irresponsáveis.
Depois de cavalgar mais um pouco, o caipira se surpreendeu ao ver um carrão parado, com defeito mecânico, no acostamento à beira de um capinzal. Era o automóvel do sujeito que caçoou dele.
A tampa do capô estava aberta e saía fumaça do motor. Sem parar de cavalgar, o matuto deu o troco. Com sua voz mansa, parecendo monge budista, falou sarcasticamente: "E aí, dotô, parou pra dar capim pros 200 cavalos?" E mais não disse nem lhe foi perguntado.
DROPS
Auxílio emergencial de R$ 900. Na Argentina.
Nova dupla caipira na praça: Bial e Merval.
Novos humoristas na praça. São editorialistas de certos jornalões (Deus meu, como eles mentem! Tomem vergonha na cara, caras-pálidas!).
Casamento: o que Deus uniu o chulé não separe.
