A ciência vai para a rua

Roberto Mancuzo

CRÔNICA - Roberto Mancuzo

Data 02/05/2023
Horário 06:00

Presidente Prudente foi escolhida para receber entre os dias 22 e 24 de maio uma das edições do Pint of Science Brasil, um evento de divulgação científica que acontecerá ao mesmo tempo em outras 112 cidades do país. 
Mas não é uma divulgação científica tradicional, como acontece em ambientes acadêmicos. O Pint of Science tem um diferencial: ele pretende levar ciência para mais perto das pessoas e para isso prioriza atividades em cafés, bares, pubs e outros tipos de espaços públicos. 
Esta ideia começou ainda em 2013, no Reino Unido, e com uma proposta muito bacana: os neurologistas do Imperial College London, Dr. Michael Motskin e Dr. Praveen Paul, organizaram um evento chamado “Meet The Researchers” e reuniram pessoas diagnosticadas por Parkinson, Alzheimer e outras doenças neurodegenerativas para que conhecessem melhor as pesquisas sobre esses males. Mas para que fosse eliminada a frieza dos consultórios ou dos laboratórios, fizeram isso em um tradicional pub londrino. 
Precisa dizer se deu certo? Já dizia Milton Nascimento, “todo artista tem de ir aonde o povo está”.
Mais que isso, é importante refletir sobre esta ação a partir do desmonte que a ciência brasileira sofreu nos últimos anos e do descrédito que se abateu sobre a população justamente pelo desalinhamento entre falta de recursos e suporte, cientistas, ciência e população. 
Eu sou um cientista social. De maneira formal desde 2005, quando entrei para a docência do ensino superior. Não preciso dizer o quanto isso alavancou minha profissão e tudo em minha volta, mas prefiro afirmar o quanto testemunhei de vidas transformadas ao observar que a ciência não só provoca mudanças estruturais no cotidiano das pessoas, mas leva a elas emancipação, independência. 
Uma pessoa cientificamente fundamentada é alguém com condições de criar seu próprio caminho. Está livre de mentiras e enganações, não se submete a desmandos e explorações. A ciência nos dá clareza e condições de pensar e não há nada mais eficaz quando se pretende evoluir. 
A politização da ciência, fato que ocorreu nos últimos anos no Brasil, só fez com que se interrompesse um processo muito amplo de evolução e por muito pouco não sofremos consequências piores porque tudo isso aconteceu em meio a uma pandemia, que foi a do Covid-19. Não só a ciência nos salvou com a fabricação em tempo recorde de uma vacina eficaz contra o vírus, como ajudou a derrubar mitos e o negacionismo que cresciam à época de maneira espantosa e que por certo ceifaram e ceifariam ainda milhares vidas além das 700 mil que se foram.
Um país livre só faz com pessoas que pensam e o que fundamenta o pensamento humano é a ciência. Por isso que ações como a do Pint of Science Brasil precisam ser divulgadas, compartilhadas e vividas. 
A edição prudentina deste evento é capitaneada pela FCT/Unesp e já tem parceria e apoio do poder público municipal com a Secretaria de Cultura e das demais instituições de ensino superior e pesquisa da cidade, como a Unoeste, a Fatec e a Toledo. O local escolhido é a Fábrica Gastrobar e os temas que serão compartilhados entre quem estiver por lá serão: nanotecnologias, saúde e bem-estar; cidades inteligentes; e GPS, inteligência artificial e metaverso. A programação final sai nos próximos dias e vale a pena ficar de olho para viver uma experiência como essa. 
 

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