A Divina Comédia – 2

OPINIÃO - Marco Antônio Del Grande

Data 10/02/2019
Horário 07:40

Como eu informei no artigo anterior, “A Divina Comédia” foi escrita há quase 700 anos e é composta por 15 mil versos em latim e depois na língua do povo, que era referente à língua da Itália e é tida como a pedra fundamental da literatura italiana. A obra é formada por dezenas de cantos como forma de poemas e não se trata de comédia como entendemos hoje. Mesmo a palavra divina não é de Dante. A obra impressionou tanto os poetas e filólogos ao longo do tempo e acabaram concluindo que essa era divina. É impossível ler “A Divina Comédia” sem se emocionar.

Creio que é bom recordar que esta obra não deixa de ser uma ficção, pois não são as pessoas vivas que comparecem, mas sim suas almas ou espíritos. Este livro, tradução do escritor Hernâni Donato, é ilustrado com figuras, em branco e preto, algumas horrendas como, por exemplo, a Medusa e outra um homem todo enrolado por uma grande cobra. Mas há também, pelo menos uma muito bonita nas suas formas; é Camila, a virgem que morreu lutando pela Itália e é tida como heroína, mas por ter pegado em armas não foi aceita no Paraíso. E talvez devesse purgar no inferno. Condoído, Dante propôs-lhe a missão: guardar uma das portas que ligam o inferno e o purgatório. Ela deveria tentar os homens para um ato luxurioso. O homem que aceitasse cairia para o inferno. Ela também deveria manter-se virgem se quisesse manter a possibilidade de ascender ao céu (p. 22).

Posto isto, vou apenas completar alguns dos cantos sem preocupação cronológica, mesmo porque são dezenas de cantos abrangendo o paraiso, o inferno e o purgatório, mas citarei o número das páginas. “Por mim se entra no reino das dores, por mim se chega ao padecer eterno, por mim vai a condenada gente. Por amor à justiça criou-se o poder que tudo pode, pois sou obra de suma sabedoria e do amor supremo. Antes de mim apenas foram criadas as coisas eternas e, como estas eu eternamente existo. Deixai aqui todas as esperanças o vós que entrais”(p. 25).

Há no Céu piedosa Senhora cuja prece o Eterno não resiste e que apiedada dos perigos contra os quais te envio é Luzia (Santa Luzia protetora dos olhos) e é oportuno que te avise: teu devoto proteção requer e Luzia te ajudará, ó Beatriz predileta do Senhor, a socorrer aquele que muito te amou a ponto de superar o comum do amor humano. Beatriz apressou-se para chegar até Dante e diz: Rogo que partas é o amor que me leva a suplicar-te. Devo voltar ao sítio de onde vim aos pés do Senhor, a que sempre vejo e hei de louvar-te por tal feito. Ó Senhora que em socorrer-me foste gentil ao mando e forte na execução das ordens que me acenderam no peito o desejo ardente de cumprir tudo o que me propuseste (p. 24).

Jesus Cristo cingido por triunfal coroa, libertou das sombras a alma de nosso primeiro pai (Adão) e Abel, Noé, Moisés que por Ele legislara e a Ele obedecera e mais o patriarca Abraão e do Rei Davi, Israel com seus descendentes e de Raquel por quem batalhou e sofreu tanto.  Muitos outros retirou do Limbo para elevar à glória celeste” (p. 28). Enfim, para que todos saibam há um príncipe que precisa ser lembrado por que abandonou toda riqueza da família para se tornar o esposo da pobreza. Dante se refere a São Francisco de Assis que pelos seus feitos merece o Céu, mas não crê que muitos dos seus seguidores mereçam a mesma glória (p. 264). Ler Dante, além de ser emocionante, é uma forma de entender melhor o mundo.

(Homenagem a Marcos Alegre, professor emérito da FCT/UNESP e ex-diretor dessa mesma instituição, falecido em 29/01/2019).

Marco Antonio Del Grande Alegre é advogado e CEO da MG Carbon – Projetos de Carbono. Contato: [email protected]

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