A faixa dos 50 anos é crítica para você

Jair Rodrigues Garcia Júnior

As doenças cardiovasculares e outras doenças crônicas aumentam com a idade. Individualmente, quanto mais você consegue atrasar o surgimento das doenças, melhor a qualidade de vida e maior a perspectiva de longevidade. Medir a circunferência do abdome pode ser um passo. Medir a força dos músculos pode ser outro passo igualmente importante. Esses dois fatores separadamente e, principalmente em conjunto, representam sério risco (85% maior) para a morte por doença cardiovascular. 

OBESIDADE SARCOPÊNICA 
É uma condição comum no envelhecimento, quando a pessoa 50+ começa a acumular excesso de gordura e perde massa muscular. A perda de massa (sarcopenia) e de força (dinapenia) muscular tem algumas causas, e uma delas é a diminuição das fibras musculares do tipo 2 que representam parte do volume do músculo e são responsáveis pela força. Infelizmente, as fibras musculares do tipo 2 são cada vez menos estimuladas.

DINAPENIA
A dinapenia tem sido considerada mais grave em termos de saúde e longevidade do idoso do que a sarcopenia. Uma das formas de medir a força é com o aparelho dinamômetro de preensão manual. Basta segurar o aparelho e realizar o esforço de fechar a mão. Quando puder fazer esse teste, os parâmetros para caracterizar dinapenia (pouca força) são: < 26Kg para homens e < 16Kg para mulheres.

OBESIDADE ABDOMINAL DINAPÊNICA
Refere-se à soma da obesidade abdominal mais a dinapenia, que são fatores de risco para morte por aterosclerose/infarto e outras causas. A circunferência abdominal >102 cm para homens e > 88 cm para mulheres (use uma fita métrica) junto com a diminuição da força (ver acima) aumenta em 37% o risco de morte por causas diversas. Isso acontece porque a gordura acumulada na cavidade abdominal (visceral) provoca a inflamação crônica sistêmica (metainflamação), infiltração de gordura nos músculos (mioesteatose), resistência à insulina e resistência anabólica (menos síntese de proteínas).

PARADOXO DA OBESIDADE
No estudo com 7.030 pessoas 50+, durante 8 anos, os pesquisadores brasileiros e britânicos não encontraram aumento do risco de morte por doença cardiovascular naqueles que apresentavam obesidade abdominal, porém mantinham a força. Em geral a obesidade aumenta o risco de doença cardiovascular, mas não o risco de morte, como era de se esperar, por isso essa condição é chamada de “paradoxo da obesidade”. Acredita-se que os músculos, ainda com força, se mantenham ativos e não permitam que o metabolismo dos carboidratos, gorduras e proteínas seja muito desregulado pelo excesso de gordura. 

MÚSCULOS ATIVOS
Quando os músculos perdem força, são menos utilizados, menos ativos e produzem menos miocinas, as moléculas que mantêm em baixo grau a metainflamação. Obviamente, o nível de atividade física regride com o envelhecimento. Quanto mais rápida e acentuada a perda de massa muscular e força, maior o grau de vulnerabilidade da saúde. Portanto, não basta controlar o peso corporal e impedir a obesidade abdominal. Parece ser mais importante estimular os músculos, principalmente as fibras musculares do tipo 2 com exercícios de força, com o peso corporal e com sobrecargas na academia. Se você ainda não chegou aos 50 anos, comece amanhã mesmo. Mas se já chegou aos 50+, comece hoje!
 
Parece ser mais importante estimular os músculos, principalmente as fibras musculares do tipo 2 com exercícios de força.

 

Referências

Alexandre TS, Scholes S, Ferreira Santos JL, Duarte YAO, Oliveira C. Dynapenic abdominal obesity increases mortality risk among english and brazilian older adults: a 10-year follow-up of the ELSA and SABE studies. Journal of Nutrition, Health & Aging. 2018; 22: 138-144. DOI: https://doi.org/10.1007/s12603-017-0966-4

Ramírez PC, Oliveira DC, Máximo RO, ..., Alexandre TS. Is dynapenic abdominal obesity a risk factor for cardiovascular mortality? A competing risk analysis. Age and Ageing. 2023; 52(1): afac301. DOI:  https://doi.org/10.1093/ageing/afac301

 

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