A felicidade cabe em um frasco de vacina

Roberto Mancuzo

CRÔNICA - Roberto Mancuzo

Data 19/01/2021
Horário 05:30

Olhe, tire o seu ódio do caminho que eu quero passar com minha felicidade em ver esta vacina chegando a milhões de brasileiros. E podia ser a inglesa, japonesa, chinesa, de Nárnia. Não interessa. O importante é que quem comemorou domingo sabe que a Coronavac é a luz mais intensa que já apareceu neste túnel da pandemia. E daqui a pouco falo de quem não comemorou, mas antes, deixe continuar na “vibe” feliz. 
A vacina aprovada, mesmo que em caráter emergencial pela Anvisa, não é só um imunizante. Ela carrega alívio aos angustiados e fecha de uma vez só a narrativa idiota e irresponsável dos negacionistas. Ou agora a Anvisa não vale mais de nada? Se não aceita a verdade objetiva da ciência e dos fatos, tudo bem, mas os técnicos da autarquia foram muito coerentes e competentes ao autorizar, com requintes irrefutáveis de A + B e ressalvas, o início de um plano de imunização nacional. A vacina é segura.
Fiquei feliz demais com a primeira pessoa sendo vacinada, a enfermeira Mônica Calazans. Como bem colocou Thiago Amparo, na coluna “O Brasil é uma enfermeira preta vacinada”, na Folha de S. Paulo, por um dia, a imagem do Brasil foi a desta mulher, trabalhadora da saúde, negra e em grupo de risco, de braço erguido. Por um dia, ficaram para trás a imagem de um ministro atabalhoado e de um ministério que dormiu demais no ponto e o ônibus passou. 
E o tanto que também fiquei emocionado com a primeira decolagem da frota de aviões da FAB, que disparou esta vacina para todo Brasil? Depois das imagens que vimos em Manaus, nada mais aliviante, mais esperançoso. A situação no Amazonas não poderia ter chegado ao estado que chegou, fruto de irresponsabilidades diversas, mas ela foi a gota d’água de uma inoperância que precisa acabar. 
Até porque, ou o nosso país tem uma liderança eficaz ou nem mesmo a vacina vai ser suficiente. Penamos por mais de 300 dias sem que houvesse um centro nacional de contingência. E tudo por quê? Por uma ideologia delirante e estapafúrdia, por um senso genocida e primata que não se enquadra em qualquer manual contemporâneo de civilidade. 
Veja só o cenário neste domingo (17), dia da primeira vacina contra o Covid aplicada no Brasil: o presidente da República não soltou um “a” e o Ministro da Saúde ficou bravinho com o Dória.
Uma pena mesmo que o presidente de uma das nações mais importantes do mundo tenha deixado escapar a chance de ser um verdadeiro líder nesta cruzada pandêmica. E em que pesem todos os argumentos de seus asseclas, eu não me convenço do fato de uma autoridade nacional se opor todo santo dia à ciência, à verdade, à saúde e às boas práticas de prevenção, além de incentivar a contaminação alheia e de dizer frases que, se não matam fisicamente, acabam com o que resta de esperança e torturam mais de 200 mil famílias enlutadas. 
E não precisa me convencer do contrário, como fez um hater em minha rede social neste último domingo. Uma chatice vir com aqueles textões, aquelas “pataquadas” repetidas à exaustão e criadas em gabinetes de ódio ou que têm como fonte o grupo de WhatsApp da turma do futebol, o mapa astral de Nostradamus, o inventário da mãe Diná, o filho 0000 do Biroliro e sei lá mais o quê. 
Quando percebo que o vômito narrativo é o mesmo, já dou uma carimbada: essas pessoas nada mais são do que cúmplices e alguns têm até morte nas mãos por espalharem mentiras como tratamentos precoces que não são comprovados cientificamente e pregarem o relaxamento dos métodos de prevenção. Quem pensa assim, que discurse nas próprias redes sociais. Tenha coragem de assumir a posição. Não pegue carona nas minhas convicções e se eu precisar mesmo de convencimento, dou meus pulos por aqui. 
Mas, eu estou feliz. Viva a vacina! Vem vacina!
 

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