A sensibilidade do alecrim dourado

Estava pensando sobre o alecrim. Já ouvi muitas queixas sobre o seu plantio e o quanto é difícil, sua sobrevivência, germinar. E desistem de replantá-lo. Realmente, tratando-se do plantio, há toda uma necessidade de cuidados. A planta é algo que vivo está. E assim sendo, necessita de investimentos também. Não podemos semeá-lo e deixar de adubar, regar e comunicar com eles. Eles perecem. Tenho minhas orquídeas em casa, e caso venha a deixá-las de lado, sem os cuidados necessários, não sobreviverão. Acredite se quiser, converso com todas elas. Afago suas folhas, acaricio, elogio suas flores e agradeço a sua beleza. 
O alecrim dourado tem até uma canção muito bonita. As cirandas na infância ela era soberana. Era assim: “Alecrim, alecrim dourado, que nasceu no campo sem ser semeado. Alecrim, alecrim dourado que nasceu no campo sem ser semeado. Foi meu amor, que me disse assim, que a flor do campo é o alecrim. Foi meu amor, que me disse assim, que a flor do campo é o alecrim”.
Plantei então, uma muda de alecrim em meu quintal. Que preocupação! Parecia um filho que iria nascer. Todos os dias, ia lá e acariciava sua mudinha e batia um papinho. Observava o seu tempo. Temia ver seus galhinhos secando. Observava que o tempo do alecrim é um, e o meu é outro. E assim a mudinha do alecrim, permanecia imutável. Percebia vida ali. E seguia minha trajetória. Desistir jamais. E assim fui observando que foi duplicando seus raminhos. Demorou para expressar que havia brotado. Agora está jovenzinho. Já coloquei na batata frita, fiz chá, molho e na família. O alecrim alegra. Você que plantou e teve desilusão, porque não brotou, tente outra vez. Dê atenção, dedicação, dialogue e afague sua mudinha. Tudo que vivo está, demanda amor. O amor germina, brota, fecunda e transforma. 
Conta a lenda sobre o alecrim que, quando a sagrada família fugiu para o Egito, com Maria levando em seus braços o menino Jesus, as flores do caminho iam se abrindo à medida que eles passavam por elas. O lilás ergueu seus galhos orgulhosos e emplumados, o lírio abriu seu cálice. O alecrim, sem pétalas nem beleza, entristeceu lamentando não poder agradar o menino. Cansada, Maria parou à beira do Rio e, enquanto a criança dormia, lavou suas roupinhas. Em seguida, olhou a seu redor, procurando um lugar para estendê-las. Colocou-as sobre o alecrim e ele suspirou de alegria, agradeceu de coração a nova oportunidade e as sustentou ao sol durante toda a manhã. Maria agradeceu dizendo que: “Eu abençôo folha, caule e flor, que a partir deste instante terão aroma de santidade e emanarão alegria”. 
Todos nós temos nossa importância. Cada qual com as suas particularidades e singularidades. Uns mais sensíveis outros mais fortes. Observo que é importante respeitar o tempo de cada um. Assim, como a plantas, que são frágeis, somos também. É preciso saber manusear muito bem a condição psíquica de cada um.
 

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