A TV brasileira parou no tempo

OPINIÃO - Matheus Teixeira

Data 19/09/2020
Horário 04:45

Setembro, mês de aniversário de 70 anos da TV brasileira. Há muito o que se recordar: programas inesquecíveis, novelas que pararam o Brasil, coberturas jornalísticas que se tornaram marcos históricos e comerciais encantadores. Nas poucas comemorações do jubileu de vinho que a própria TV está fazendo, o tom é sempre de olhar para o passado e nada de pensar no futuro. A justificativa para isso é que, há muito tempo, a televisão nacional ficou presa em suas memórias e não consegue mais evoluir.
Em 2 de dezembro de 2007, houve a inauguração oficial da TV digital no Brasil. No horário nobre, todas as emissoras transmitiram simultaneamente um mesmo vídeo comemorativo, com forte carga emotiva. Lembro-me como se fosse hoje. À época havia muitas expectativas! Dentre elas, de que os brasileiros teriam sinal digital aparentemente em breve. Quase 13 anos depois daquela “revolucionária” data, o processo de desligamento do sinal analógico ainda está em curso no país e só deve terminar (pasmem!) no fim de 2023, de acordo com a previsão do governo federal.
Enquanto isso, do outro lado do mundo, a TV está evoluindo. Desde dezembro de 2018, o Japão faz transmissões em 8K via satélite e prevê usá-lo em vários momentos das Olimpíadas de 2021. O 8K, em teste neste país oriental desde o ano de 1995, significa que a qualidade da imagem digital da TV é superior em até 16 vezes àquela gerada pelo sistema de full HD (alta definição total).
O sinal digital, algo realmente importante, virou erroneamente sinônimo de TV digital. A era da televisão digital que nos foi prometida seria aquela com mobilidade, multiprogramação e interatividade. Com a mobilidade, passaríamos a assistir gratuitamente aos canais de TV aberta pelos nossos dispositivos móveis. Fato é que ela ainda não está no celular, embora alguns canais possam ser vistos por meio do smartphone, desde que haja internet de banda larga. Aquela coisa utópica de ver toda a programação ao vivo mesmo andando num ônibus circular, nem pensar.
Por falar em programação, a multiprogramação é um aspecto que também só ficou na promessa. Ou será que alguém consegue ligar seu televisor e escolher para assistir um entre dois ou mais programas transmitidos ao mesmo tempo por uma emissora X, às 9h de uma segunda-feira, por exemplo? Eu não consigo e nem sei quando irei conquistar essa proeza.
Mais um ponto esquecido é a tal da interatividade, afinal imaginávamos que a partir do nosso controle remoto iríamos interagir com os programas. Ledo engano. A pouca interatividade que existe se dá por meio das redes sociais, que geralmente dão ao espectador-internauta, ocasionalmente, a possibilidade de ser um comentarista (com comentários que em nada alteram os roteiros dos programas). Sabemos que as chamadas TVs inteligentes (smart TVs) permitem o uso de aplicativos, como navegador, Amazon Prime Video, YouTube e Netflix; mas, funcionalidades para a TV aberta, nenhuma.
 

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