Era uma manhã ensolarada em 11 de julho de 1973, e a emoção pairava no ar. O voo Varig 820, um Boeing 707, deixava o Rio de Janeiro rumo a Londres (Inglaterra), trazendo com ele a esperança e os sonhos de 123 passageiros. Entre eles, estava o primeiro-oficial Antônio Fuzimoto, um jovem piloto que havia se tornado um dos ex-alunos mais notáveis do Aeroclube de Presidente Prudente.
No entanto, o que se prometia ser uma viagem tranquila, rapidamente se transformou em um pesadelo. Um incêndio irrompeu no banheiro da aeronave, fazendo com que a fumaça invadisse a cabine, a visibilidade se tornasse quase nula e o controle dos instrumentos ficasse comprometido. Fuzimoto, com o coração acelerado, olhou para seu comandante, Gilberto Araújo. Ambos sabiam que o tempo estava se esgotando.
“Precisamos agir agora!”, disse Araújo, com a voz firme apesar da pressão. Fuzimoto, determinado e focado, não hesitou. Abrindo a janela do cockpit, ele fixou o olhar para fora, em busca de uma alternativa que pudesse salvar vidas. O campo de cebolas em Saulx‑les‑Chartreux, em Paris (França), apareceu diante deles como um pequeno oásis em meio ao caos. Era a única chance.
Com as instruções de Araújo em mente, Fuzimoto preparou-se para a aterrissagem. A adrenalina pulsava em suas veias enquanto ele manobrava a aeronave, ajustando a altitude e os flaps. O céu se tornava uma miragem, e o campo parecia estar cada vez mais distante. A pressão era imensa, mas a determinação de Fuzimoto era ainda maior.
GRAÇAS À CORAGEM E PERÍCIA
DOS PILOTOS — E ESPECIALMENTE
DE FUZIMOTO, QUE ASSUMIU O CRUCIAL
COMANDO NAS FASES FINAIS —
UM DESASTRE URBANO FOI EVITADO
Ele conduziu o jato com precisão cirúrgica, levando-a de nariz para cima. O trem de pouso se abaixou, e a frenética descida aproximava-se do solo. Fuzimoto tem uma visão clara: eles pousariam sobre aquele campo, com toda a sua força, desviando do desastre que poderia se abater sobre a vila próxima.
O impacto foi abrupto, mas a aterrissagem foi uma prova de sua maestria como piloto. Apesar da tragédia — 123 vidas foram perdidas, com apenas um sobrevivente entre os passageiros (a maioria queimada ou intoxicada pela fumaça tóxica do plástico), Ricardo Trajano — o saldo poderia ter sido muito pior. Graças à coragem e habilidade de Fuzimoto, um desastre urbano foi evitado por pouco.
O mundo olhava pasmo para o ato heroico que havia se desenrolado ali, e a história de Antônio Fuzimoto se espalhou como um flamejante testemunho de bravura. Ele não apenas pousou um avião em meio à fumaça e destruição, mas também restaurou a fé nas capacidades do ser humano em momentos de crise.
Anos mais tarde, o nome de Antônio Fuzimoto se tornaria sinônimo de coragem e sacrifício. O que aconteceu naquele dia em Saulx‑les‑Chartreux se tornou um legado, um hino à perseverança e um lembrete de que, mesmo nas situações mais sombrias, a luz pode ser encontrada através da determinação e da esperança. O comandante Antônio Fuzimoto não apenas pousou um Boeing; ele pousou nossa fé na humanidade.
As investigações sobre esse acidente foram conduzidas pelo BEA (Bureau d'Enquêtes et d'Analyses pour la Sécurité de l'Aviation Civile) em conjunto com o FAA (Federal Aviation Administration) e o DAC (Departamento de Aviação Civil). Os investigadores trabalharam com diversas hipóteses para o início do fogo, muitas delas envolvendo curto-circuito nos componentes elétricos situados na área entre ambos os toaletes traseiros.
A conclusão foi a de que o incêndio que parece ter começado na unidade de lavatório do banheiro direito traseiro foi detectado porque a fumaça entrou no banheiro esquerdo adjacente.
A dificuldade em localizar o fogo tornou as ações do pessoal de cabine ineficazes. A tripulação de voo não tinha condições de intervir de forma útil a partir da cabine contra a propagação do fogo e a invasão de fumaça. A falta de visibilidade na cabine levou a tripulação a decidir por um pouso forçado. No momento do pouso, o fogo estava confinado à área dos banheiros da popa.
Os ocupantes da cabine de passageiros foram envenenados, em graus variados, por monóxido de carbono e outros produtos da combustão do incêndio iniciado no cesto de lixo do toalete direito, provavelmente originado por uma ponta de cigarro acesa.
As recomendações após este acidente foram para a confecção de cestos de lixo em banheiros que evitassem a propagação de fogo, o emprego de materiais de acabamento interno das aeronaves que fossem antichamas ou que liberassem pouca fumaça em caso de incêndio, e um rígido controle do fumo nos banheiros das aeronaves, com inspeções frequentes do pessoal de bordo e eventualmente até a proibição, como acabou ocorrendo na maioria das aeronaves alguns poucos anos depois desse acidente.
Outra recomendação foi o emprego de sistemas de extinção de fogo nos toaletes, bem como detectores de fumaça.
Fotos: Arquivo
Fuzimoto, com perfeição cirúrgica, levou o jato arrastando, de nariz para cima, pousando com os flaps parciais e trem de pouso abaixado, freando com tudo para evitar que a aeronave atingisse a vila de Saulx‑les‑Chartreux
Ocupantes da cabine de passageiros foram envenenados, em graus variados, por monóxido de carbono e outros produtos da combustão do incêndio iniciado no cesto de lixo do toalete direito, provavelmente originado por uma ponta de cigarro acesa
Edição do jornal O Imparcial de 13 de julho de 1973 noticiou o acidente